quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O silêncio

Por Alberto Kirilauskas

Os carros, os aviões, os ventiladores, emitem ruídos que orientam nossas
vidas,
ou as desorientam,
nos afastam de algo mais profundo.
As coisas que emitem sons também são as “coisas coisamente”.
Estes somos nós nos nossos momentos de coisa.
Emitimos tantos ruídos que já não mais sabemos quais os reais motivos desse
falatório que nos envolve e também o outro, e
faz com que ele seja rodeado de coisas coisamente pronunciando seus
discursos,
falas,
argumentações gigantescas buscando convencê-lo.
Diante de todos esses emissores de ruídos eu digo que o silêncio ainda existe.
Ele não gosta muito de companhias ou locais cheios,
mas isso não impede dele estar ali,
naquela frenética avenida com tantas coisas coisamente.
Ele pode estar rodeado de som,
sendo um lago calmo quando o vento não bate no meio do mar de gente e
objetos revoltos.
Pode ser aquele canto no meio da casa com música alta em que somente
alguns conseguem enxergar.
Ele pode ser aquele pensamento harmonioso
que repentinamente invade sua mente enquanto a discussão eleva seus tons.
Pode estar próximo de você no meio da canção
ou no meio da solidão profunda.
No fundo do poço ele pode estar, assim como na praia deserta.
Encontrá-lo na nossa sociedade muitas vezes exigem-se esforços,
e a recompensa por encontrá-lo pode não ter diretamente o sabor doce das
coisas leves,
encontrá-lo pode ser denso, e
quantos estão dispostos a passarem pela densidade para alcançar a leveza?
Se ele esta no poço,
não haverá mais ninguém lá.
As vozes pertencerão somente a ti, e
serão suas próprias vozes dizendo coisas sobre sua vida.
Revelando os seus segredos para si, e
trazendo para o mundo do sentir os sentimentos que permaneceram por anos,
meses, dias ou horas escondidos dentro de você.
Quanto mais dizeres pronunciados em vão,
quanto maiores forem as aberrações proclamadas como salvação da alma,
maiores serão os esconderijos criados para afastarmo-nos daquela voz
profunda que existe no silêncio.
O silêncio é independente,
se não desejares sua companhia...
ele não sentirá sua falta.
Mas ele se harmonizará quando estiverem juntos.
Ele saberá que sua companhia passará despercebida e
encontrá-lo é um passo para encontrar consigo mesmo.
Então que façamos silêncio.
Façamos silêncio para ouvirmo-nos...
Ouvir o “tirano que marcha”
e as flores que crescem.

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