quarta-feira, 29 de junho de 2011

Sobre política e jardinagem

Por Alberto Kirilauskas


A política dentro do sistema atual de privatização da coisa pública tem sido feita de modo a atender, em muitos casos, aos interesses de pequenos grupos. E esse fato não ocorre somente por erros que possui a possibilidade de favorecer um grupo, onde a incapacidade de gestão favorece aleatoriamente grupos restritos. O que se apresenta como realidade são diversos casos indicando que tais ações favorecendo uma parte restrita da sociedade são executadas intencionalmente. Logicamente que é impossível generalizar e descreditar toda a política e todos os políticos, inclusive acredito que esse é um dos fatos que interessa aos que fazem da política sua forma de manter a estrutura social. 
O educador Rubem Alves, com seu texto Sobre política e jardinagem, compartilha conosco algumas reflexões sobre a política. Boa leitura.


De todas as vocações, a política é a mais nobre. Vocação, do latim vocare, quer dizer chamado. Vocação é um chamado interior de amor: chamado de amor por um ‘fazer’. No lugar desse ‘fazer’ o vocacionado quer ‘fazer amor’ com o mundo. Psicologia de amante: faria, mesmo que não ganhasse nada.

‘Política’ vem de polis, cidade. A cidade era, para os gregos, um espaço seguro, ordenado e manso, onde os homens podiam se dedicar à busca da felicidade. O político seria aquele que cuidaria desse espaço. A vocação política, assim, estaria a serviço da felicidade dos moradores da cidade.

Talvez por terem sido nômades no deserto, os hebreus não sonhavam com cidades: sonhavam com jardins. Quem mora no deserto sonha com oases. Deus não criou uma cidade. Ele criou um jardim. Se perguntássemos a um profeta hebreu ‘o que é política?’, ele nos responderia, ‘a arte da jardinagem aplicada às coisas públicas’.

O político por vocação é um apaixonado pelo grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que ele poderia plantar para si mesmo. De que vale um pequeno jardim se à sua volta está o deserto? É preciso que o deserto inteiro se transforme em jardim.

Amo a minha vocação, que é escrever. Literatura é uma vocação bela e fraca. O escritor tem amor mas não tem poder. Mas o político tem. Um político por vocação é um poeta forte: ele tem o poder de transformar poemas sobre jardins em jardins de verdade. A vocação política é transformar sonhos em realidade. É uma vocação tão feliz que Platão sugeriu que os políticos não precisam possuir nada: bastar-lhes-ia o grande jardim para todos. Seria indigno que o jardineiro tivesse um espaço privilegiado, melhor e diferente do espaço ocupado por todos. Conheci e conheço muitos políticos por vocação. Sua vida foi e continua a ser um motivo de esperança.

Vocação é diferente de profissão. Na vocação a pessoa encontra a felicidade na própria ação. Na profissão o prazer se encontra não na ação. O prazer está no ganho que dela se deriva. O homem movido pela vocação é um amante. Faz amor com a amada pela alegria de fazer amor. O profissional não ama a mulher. Ele ama o dinheiro que recebe dela. É um gigolô.

Todas as vocações podem ser transformadas em profissões O jardineiro por vocação ama o jardim de todos. O jardineiro por profissão usa o jardim de todos para construir seu jardim privado, ainda que, para que isso aconteça, ao seu redor aumente o deserto e o sofrimento.

Assim é a política. São muitos os políticos profissionais. Posso, então, enunciar minha segunda tese: de todas as profissões, a profissão política é a mais vil. O que explica o desencanto total do povo, em relação à política. Guimarães Rosa, perguntado por Günter Lorenz se ele se considerava político, respondeu: ‘Eu jamais poderia ser político com toda essa charlatanice da realidade... Ao contrário dos ‘legítimos’ políticos, acredito no homem e lhe desejo um futuro. O político pensa apenas em minutos. Sou escritor e penso em eternidades. Eu penso na ressurreição do homem.’ Quem pensa em minutos não tem paciência para plantar árvores. Uma árvore leva muitos anos para crescer. É mais lucrativo cortá-las.

Nosso futuro depende dessa luta entre políticos por vocação e políticos por profissão. O triste é que muitos que sentem o chamado da política não têm coragem de atendê-lo, por medo da vergonha de serem confundidos com gigolôs e de terem de conviver com gigolôs.

Escrevo para vocês, jovens, para seduzi-los à vocação política. Talvez haja jardineiros adormecidos dentro de vocês. A escuta da vocação é difícil, porque ela é perturbada pela gritaria das escolhas esperadas, normais, medicina, engenharia, computação, direito, ciência. Todas elas, legítimas, se forem vocação. Mas todas elas afunilantes: vão colocá-los num pequeno canto do jardim, muito distante do lugar onde o destino do jardim é decidido. Não seria muito mais fascinante participar dos destinos do jardim?

Acabamos de celebrar os 500 anos do descobrimento do Brasil. Os descobridores, ao chegar, não encontraram um jardim. Encontraram uma selva. Selva não é jardim. Selvas são cruéis e insensíveis, indiferentes ao sofrimento e à morte. Uma selva é uma parte da natureza ainda não tocada pela mão do homem. Aquela selva poderia ter sido transformada num jardim. Não foi. Os que sobre ela agiram não eram jardineiros. Eram lenhadores e madeireiros. E foi assim que a selva, que poderia ter se tornado jardim para a felicidade de todos, foi sendo transformada em desertos salpicados de luxuriantes jardins privados onde uns poucos encontram vida e prazer.

Há descobrimentos de origens. Mais belos são os descobrimentos de destinos. Talvez, então, se os políticos por vocação se apossarem do jardim, poderemos começar a traçar um novo destino. Então, ao invés de desertos e jardins privados, teremos um grande jardim para todos, obra de homens que tiveram o amor e a paciência de plantar árvores à cuja sombra nunca se assentariam. 



Rubem Alves


(Publicado inicialmente na Folha de S. Paulo, Tendências e Debates, 19/05/2000.) Disponível no site www.rubemalves.com.br

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Sonho de uma Flauta

Por Alberto Kirilauskas

Se, no teu centro
um Paraíso não puderes encontrar, 
não existe chance alguma de, algum dia, 
nele entrar.
Angelus Silésius.

A dimensão ambiental incorpora o todo, onde nós estamos estamos inseridos. O pequeno dizer do Angelus Silésius traz para nossas reflexões a nossa responsabilidade conosco. Se não visualizarmos dentro de nós as possibilidades mais belas, não conseguiremos extrapolá-las para além de nós. Assim, compreendo que a sociologia, antropologia e outras ciências que estudam o ser humano e suas relações, precisam incorporar essa dimensão do Eu interior, para que assim a nova sociedade que está sendo construída constantemente seja a mais agradável possível. Destaco que não estou dizendo que devemos partir para o individual sem considerar todo esse complexo sistema que nos circunda e nos influencia, mas sim que é fundamental adentrarmos em todas as dimensões da vida. O texto abaixo do Hermann Hesse, escritor alemão que compartilha conosco faces desse ambiente interior, nesse conto, e também exterior em outros escritos, contribui, de forma rara, para nos vermos diante e inseridos na vida, na sociedade e no tempo. Boa leitura.









 -Toma – disse meu pai, e entregou-me uma pequena flauta de osso - leva isso e não esqueças teu velho pai, quando alegrares com tua música as pessoas nas terras distantes. Já é tempo agora de veres o Mundo e aprenderes alguma coisa. Mandei fazer a flauta para ti, porque não sabes mesmo nenhum outro ofício e só gosta de cantar. Mas pensa também em só tocar sempre canções bonitas e agradáveis, senão seria pena pelo dom que Deus te concedeu.
     Meu querido pai entendia pouco de música, não era um sábio; pensava que eu tinha apenas de soprar a linda flautinha e tudo estaria bem. Eu não queria decepciona-lo, por isso agradeci, botei a flauta no bolso e me despedi.
     Nosso vale me era conhecido até o grande moinho; depois então começava o mundo, e ele me agradou bastante.Uma Abelha cansada do vôo pousou na minha manga, e eu a levei comigo, a fim de que no meu primeiro descanso tivesse um mensageiro para mandar de volta, como um cumprimento á minha terra.
    Bosques e prados acompanhavam meu caminho, e o rio corria junto, vigorosamente; eu vi, o mundo diferia pouco da minha terra. As árvores e flores, as espigas de trigo e as moitas de avelã falavam comigo, cantei com elas suas canções e elas me compreendiam, exatamente como lá em casa; com isso minha Abelha também despertou, subiu devagar até meus ombros, voou e tornou a cruzar duas vezes comigo, com seu zumbido profundo e doce, e então voltou para minha terra.
    Aí apareceu diante do bosque uma mocinha, que carregava uma cesta no braço e um largo e sombrio chapéu de palha na cabeça loura.
    -Bom dia – disse-lhe eu – aonde vais?
    -Devo levar a comida aos ceifeiros – disse ela, e caminhou ao meu lado. – e para onde quer ir ainda hoje?
-Vou para o mundo, meu pai me mandou. Ele acha que devo tocar flauta para as pessoas, mas isso ainda não sei direito, preciso primeiro aprender.
-Bem, bem. E que sabes então direito? Alguma coisa é preciso saber.
-Nada de especial. Sei cantar canções.
-Que canções?
    -Canções de todo tipo, sabe, para a manhã e para a tarde e para todas as árvores e bichos e flores. Agora, por exemplo, eu poderia cantar uma bonita canção de uma mocinha que vem saindo do bosque e traz comida para os ceifeiros.
   - Podes fazer isso? Então canta um pouco!
   - Sim, mas como te chamas mesmo?
   - Brigite.
  Então cantei a canção da linda Brigite com o chapéu de palha, o que ela traz na cesta, e como as flores olham para ela, e a trepadeira azul da grade do jardim sente saudades dela, e tudo o que se podia dizer. Ela prestou atenção seriamente e disse que estava bom. E quando lhe contei que estava com fome, ela levantou a tampa de sua cesta e apanhou para mim um pedaço de pão. Como mordi um pedaço e continuei firmemente a andar, ela disse:
   - Não se deve comer andando. Uma coisa depois da outra.
   Nos sentamos na grama e eu comi meu pão  e ela cruzou as mãos morenas em volta da perna e ficou me olhando.
   - Queres cantar ainda alguma coisa para mim?- perguntou então, quando terminei.
   - Quero, sim. Que deves ser?
   - Sobre uma moça que esta triste porque o amado partiu.
   - Não ,isso não posso. Não sei como é isso, e a gente também não deve ficar triste. Eu só devo cantar canções gentis e alegres. Disse meu pai. Vou cantar para ti sobre o cuco ou a borboleta.
   - E do Amor não sabes nada? – perguntou ela, então.
   - Do Amor? Ora, claro, isso é o mais bonito de tudo.
   Imediatamente comecei a cantar sobre o raio de sol que ama papoulas vermelhas e como ele brinca com elas e fica cheio de Alegria. E sobre a fêmea do tentilhão, quando espera por ele e quando ele vem, ela voa para longe e parece amedrontada. E continuei a cantar sobre a menina dos olhos castanhos e sobre o rapaz que chega, canta e por isso recebe um pão de presente ; mas agora ele não quer mais pão, ele quer um beijo da donzela e quer olhar os seus olhos castanhos, e continua a cantar tanto tempo e não termina, até que ela começa a rir e lhe fecha a boca com seus lábios.
   Aí Brigite debruçou-se e fechou-me a boca com os lábios e fechou os olhos e tornou a abri-los  e eu olhei as estrelas castanho- douradas bem perto, eu próprio estava refletido ali dentro e um par de brancas flores do Prado também.
    - O Mundo é muito Bonito – disse eu – meu pai tinha razão. Mas agora quero te ajudar a carregar isso para que cheguemos até tua gente.
    Tomei-lhe a cesta e continuamente a andar, seu passo combinava com o meu e sua alegria com a minha, e o bosque suave e fresco falava da montanha em volta; eu nunca havia caminhado com um prazer tão grande. Durante longo tempo cantei alegremente, até que tive de parar de tanta satisfação; eram coisas demais que rumorejavam e contavam- se sobre o vale e a montanha e a grama e a folhagem e o rio e a floresta.
    Aí pensei: Se pudesse compreender e cantar ao mesmo tempo essas mil canções do Mundo, das gramas e flores e gente e nuvens e tudo, da floresta velha e do pinheiral e também de mares longínquos e montanhas, e as das estrelas e luas, e se tudo isso pudesse ressoar e cantar em mim ao mesmo tempo, então eu seria o querido Deus, e cada nova canção deveria ficar no céu como uma estrela.
   Mas enquanto eu assim pensava, estava silencioso e maravilhado, porque aquilo antes nunca me ocorrera, Brigite parou e segurou a alça da cesta.
   - Agora devo ir lá em cima – disse ela – lá no campo está nossa gente. E tu, para onde vais: vens comigo?
   - Não, ir contigo não posso. Preciso ir pelo Mundo, Obrigado pelo Pão, Brigite, e pelo beijo; vou pensar em ti.
    Ela segurou a cesta de comida, e sobre a cesta seus olhos novamente se inclinaram para mim em sombras castanhas, e seus lábios prenderam- se aos meus e seu beijo foi tão bom e carinhoso, que quase fiquei triste de tanto Prazer.Então gritei rápido:
   - Vai com Deus – e marchei apressadamente pela estrada acima.
    A moça subiu devagar a montanha, e sob as folhas de faia penduradas na orla do bosque, parou e olhou na minha direção, e quando lhe acenei com o chapéu, ela tornou a balançar a cabeça e desapareceu silenciosamente, como uma miragem , para dentro da sombra do bosque.
   Eu, porém, continuei tranqüilamente meu caminho, e estava imerso em meus pensamentos, quando a estrada dobrou numa curva.
   Lá havia um moinho e, perto, um barco na água; dentro estava sentado um homem sozinho e parecia apenas esperar por mim, pois quando tirei o chapéu e entrei no barco, este, em seguida, começou a andar e deslizou rio abaixo. Eu estava sentado no meio do barco, e o homem atrás, no leme, e quando lhe perguntei para onde íamos, ele levantou os olhos cinzentos e encarou-me com um Olhar velado.
   - Para onde quiserdes – disse, com uma voz abafada. – Rio abaixo e para o mar, ou para as grandes cidades, podes escolher. Tudo me pertence.
-          Tudo te pertence? Então és o rei?
   - Talvez – disse ele. – E, ao que me parece, tu és um poeta, Não? Então canta-me uma canção de viagem!
   Fiz um esforço, estava com medo do homem grisalho e sério, e nosso barco deslizava rápido e silencioso pelo rio. Cantei sobre o Rio, que carrega o barco e reflete o Sol e rumoreja mãos fortes nas margens dos rochedos e completas alegremente seu passeio.
    O rosto do homem continuou impassível, e quando prestei atenção, ele balançava a cabeça como um sonhador. Então, para meu espanto, ele próprio começou a cantar, e  também cantava sobre o rio, e sobre a viagem do rio através dos vales, e sua canção era mais bela e poderosa que a minha, mas tudo soava diferente.
   O rio, tal como ele o cantava, vinha como um destruidor vacilante pela montanha abaixo, escuro e selvagem; furioso, ele se sentia dominados pelos moinhos, coberto pelas pontes, detestava cada navio que precisava carregar, e, em suas ondas e nas longas e verdes plantas aquáticas, rindo, balançava os corpos brancos dos afogados.
   Isso tudo não me agradou, e, entretanto era tão belo e cheio de um acento invisível, que fiquei completamente desorientado e angustiado e me calei. Se for certo o que esse velho, sensível e inteligente cantor, cantou com sua voz velada, então todas as minhas cantigas não passavam de tolices e brincadeiras bobas de criança. Então o mundo, por causa delas, não era bom e luminoso como o coração de Deus, e sim escuro e triste, mau e sombrio, e quando os bosques murmuravam, não era de alegria, e sim de martírio.
   Seguimos adiante, e as sombras foram longas, e de cada vez que comecei a cantar, meu canto soava menos claro, e minha voz tornavam-se mais baixa, e de cada vez o cantor desconhecido respondia com uma canção que tornava o Mundo ainda mais enigmático e penoso, e me tornava ainda mais tímido e triste.
   Minha Alma doía e eu me arrependia de não ter ficado em terra, perto das flores ou da linda Brigite, e para sentir-me seguro no crepúsculo que crescia, recomecei a cantar e cantei na luz vermelha da tarde a canção de Brigite e de seu Beijo.
   Aí o crepúsculo começou, e eu emudeci, e o homem no leme cantou, e ele também cantava sobre o Amor e  a alegria do Amor, sobre olhos castanhos e Azuis, sobre lábios vermelhos e úmidos, e era lindo o que ele cantava, cheio de dor, sobre o rio escurecido, mas em sua canção também o Amor se tornara sombrio e temível, e um Segredo Mortal, no qual os homens aflitos e feridos tocavam com seu desejo e sua saudade, e com o qual se martirizavam e se matavam uns aos outros.
   Escutei e fiquei tão cansado e aflito, como se estivesse viajando desde muito tempo e houvesse passado por grande miséria e desgraça. Vinda do estranho, sentia cair sobre mim uma torrente silenciosa e fria de tristeza e receio, a penetrar no meu coração.
    - Pois bem, a Vida não é o que há de mais elevado e mais belo – gritei afinal amargamente – e sim a morte. Então te peço, rei triste, canta-me uma canção da morte!
 O homem no leme cantou somente sobre a morte, e cantou melhor do que eu jamais ouvira cantar. Mas a Morte também não era o que havia de mais elevado e mais belo, nela também não se encontrava consolo. A morte era vida e a vida era morte, e elas estavam entrelaçadas numa perpétua e furiosa luta de Amor, e isso era a ultima coisa e o sentido do Mundo, e dali vinha um clarão, que parecia querer valorizar toda miséria, e de outro lado vinha uma sombra  que perturbava toda alegria e beleza e as envolvia na escuridão. Mas para além da escuridão, a alegria ardia mais íntima e bela, e o Amor queimava mais profundamente nessa Noite.
   Escutei e fiquei bem quieto bem quieto, não tinha mais nenhuma novidade dentro de mim além da vontade do estranho. Seu olhar  repousou sobre mim, tranqüilo e com uma certa bondade triste, e seus olhos cinzentos estavam cheios de dor e da beleza do Mundo. Ele me sorriu, e então achei nele um coração, e pedi na minha dor.
   - Ah, vamos voltar! Sinto medo aqui na noite e queria retornar para onde posso encontrar Brigite, ou para a casa de meu pai.
   O homem levantou-se e espiou a noite, e sua lanterna iluminou claramente seu rosto magro e firme.
   - Para trás não há caminho – disse sério e amável. – A gente precisa ir sempre para a frente, quando quer penetrar o Mundo. E da garota dos olhos castanhos já tiveste o melhor e  melhor e mais lindo  isso vai se tornar quando mais distante estiver. Ainda assim, segue sempre para onde quiserdes, vou te ceder meu lugar no leme!
   Eu estava triste demais, e, entretanto, vi que ele tinha razão. Cheio de saudade pensei em Brigite e na minha terra e em tudo que me fora próximo e luminoso e que me pertencera, e que eu agora havia perdido. Mas queria tomar o lugar do desconhecido e dirigir o leme. Assim devia ser.
   Por isso levantei-me em silêncio e fui andando pelo barco até o lugar do leme, e o homem veio em silêncio ao meu encontro, e quando já estávamos perto um do outro, olhou-me firmemente nos olhos e entregou-me sua lanterna.
   Entretanto, quando me sentei ao leme com a lanterna do meu lado, estava sozinho no barco; percebi isso com profunda estranheza, o homem desaparecera, e, contudo, eu não estava amedrontado, já pressentira isso. Pareceu-me que o lindo da caminhada e Brigite e meu pai e minha terra tinham sido apenas um sonho, e que eu era velho e aflito, e que desde sempre e sempre viajava sobre esse rio noturno.
   Compreendi que não devia chamar pelo homem e a percepção da verdade atingiu-me como a geada.
   Para certificar-me do que imaginava, debrucei-me sobre a água e ergui a lanterna, e do escuro espelho da água um rosto duro e sério me olhou com olhos cinzentos, um rosto velho, sábio, e vi que aquele era eu.
   E como nenhum caminho voltava atrás, continuei seguindo sobre a água escura dentro da Noite.

Hermann Hesse  - Sonho de uma Flauta

domingo, 19 de junho de 2011

A palavra sustentabilidade

Por Rachel Trovarelli

O que é sustentabilidade? Pergunta dificil de responder. Existem muitos livros, autores, critérios que trazem diferentes abordagens e significados a essa palavra. Ou seria este um conceito? Um adjetivo? Um substantivo?

Bom, ao pé da letra, podemos entender sustentabilidade como habilidade de se sustentar.
Segue texto de Leonardo Boff publicado em http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5087 . Ele traz uma crítica - que considero pertinente - as formas de uso e significados atruibuído a este conceito, a esta palavra, a este substantivo...

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Sustentabilidade: adjetivo ou substantivo?


As empresas, em sua grande maioria, só assumem a responsabilidade socioambiental na medida em que os ganhos não sejam prejudicados e a competição não seja ameaçada. Chegamos a um ponto em que não temos outra saída senão fazer uma revolução paradigmática, senão seremos vítimas da lógica férrea do Capital que poderá nos levar a um impasse civilizatório.

Leonardo Boff



É de bom tom hoje falar de sustentabilidade. Ela serve de etiqueta de garantia de que a empresa, ao produzir, está respeitando o meio ambiente. Atrás desta palavra se escondem algumas verdades mas também muitos engodos. De modo geral, ela é usada como adjetivo e não como substantivo.



Explico-me: como adjetivo é agregada a qualquer coisa sem mudar a natureza da coisa. Exemplo: posso diminuir a poluição química de uma fábrica, colocando filtros melhores em suas chaminés que vomitam gases. Mas a maneira com que a empresa se relaciona com a natureza donde tira os materiais para a produção, não muda; ela continua devastando; a preocupação não é com o meio ambiente mas com o lucro e com a competição que tem que ser garantida. Portanto, a sustentabilidade é apenas de acomodação e não de mudança; é adjetiva, não substantiva.



Sustentabilidade, como substantivo, exige uma mudança de relação para com a natureza, a vida e a Terra. A primeira mudança começa com outra visão da realidade. A Terra está viva e nós somos sua porção consciente e inteligente. Não estamos fora e acima dela como quem domina, mas dentro como quem cuida, aproveitando de seus bens mas respeitando seus limites. Há interação entre ser humano e natureza. Se poluo o ar, acabo adoecendo e reforço o efeito estufa donde se deriva o aquecimento global. Se recupero a mata ciliar do rio, preservo as águas, aumento seu volume e melhoro minha qualidade de vida, dos pássaros e dos insetos que polinizam as árvores frutíferas e as flores do jardim.



Sustentabilidade, como substantivo, acontece quando nos fazemos responsáveis pela preservação da vitalidade e da integridade dos ecossistemas. Devido à abusiva exploração de seus bens e serviços, tocamos nos limites da Terra. Ela não consegue, na ordem de 30%, recompor o que lhe foi tirado e roubado. A Terra está ficando, cada vez mais pobre: de florestas, de águas, de solos férteis, de ar limpo e de biodiversidade. E o que é mais grave: mais empobrecida de gente com solidariedade, com compaixão, com respeito, com cuidado e com amor para com os diferentes. Quando isso vai parar?



A sustentabilidade, como substantivo, é alcançada no dia em que mudarmos nossa maneira de habitar a Terra, nossa Grande Mãe, de produzir, de distribuir, de consumir e de tratar os dejetos. Nosso sistema de vida está morrendo, sem capacidade de resolver os problemas que criou. Pior, ele nos está matando e ameaçando todo o sistema de vida.



Temos que reinventar um novo modo de estar no mundo com os outros, com a natureza, com a Terra e com a Última Realidade. Aprender a ser mais com menos e a satisfazer nossas necessidades com sentido de solidariedade para com os milhões que passam fome e com o futuro de nossos filhos e netos. Ou mudamos, ou vamos ao encontro de previsíveis tragédias ecológicas e humanitárias.



Quando aqueles que controlam as finanças e os destinos dos povos se reúnem, nunca é para discutir o futuro da vida humana e a preservação da Terra. Eles se encontram para tratar de dinheiros, de como salvar o sistema financeiro e especulativo, de como garantir as taxas de juros e os lucros dos bancos. Se falam de aquecimento global e de mudanças climáticas é quase sempre nesta ótica: quanto posso perder com estes fenômenos? Ou então, como posso ganhar comprando ou vendendo bônus de carbono (compro de outros países licença para continuar a poluir)? A sustentabilidade de que falam não é nem adjetiva, nem substantiva. É pura retórica. Esquecem que a Terra pode viver sem nós, como viveu por bilhões de anos. Nós não podemos viver sem ela.



Não nos iludamos: as empresas, em sua grande maioria, só assumem a responsabilidade socioambiental na medida em que os ganhos não sejam prejudicados e a competição não seja ameaçada. Portanto, nada de mudanças de rumo, de relação diferente para com a natureza, nada de valores éticos e espirituais. Como disse muito bem o ecólogo social uruguaio E. Gudynas: "a tarefa não é pensar em desenvolvimento alternativo, mas em alternativas de desenvolvimento”.



Chegamos a um ponto em que não temos outra saída senão fazer uma revolução paradigmática, senão seremos vítimas da lógica férrea do Capital que nos poderá levar a um fenomenal impasse civilizatório.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A violência e o presente.

Por Alberto Kirilauskas
            Os sábados são dias que mexem com o imaginário de muitas pessoas, principalmente os das crianças. É o dia em que a escola não está presente – a escola não precisa ser assim, esse local em que nossas angústias são intensificadas e o que agrada são as brincadeiras fora do roteiro. Para os adultos que ainda não foram assaltados, e possuem os seus sábados para descanso, eles são dias para suas atividades mais prazerosas.
            Nos sábados tanto crianças como adultos podem fazer aquilo que lhes divirtam. Crianças correm pelas ruas, soltam pipas, jogam bola, jogam vídeo-game entre tantas outras atividades prazerosas, atividades que permitem a imaginação ir além da lousa. Adultos, vestidos com as bermudas de sábado, passam horas conversando com os vizinhos e fazendo pequenos ajustes na casa, e quando menos vêem é hora do almoço. A tarde é dia de irem passear, talvez num parque, numa praça, mas hoje não, hoje iremos ao shopping...

            Este sábado está ensolarado, e é férias - mesmo no período de férias as crianças sabem quando é sábado, pois os pais tomam café mais demorado e estão presentes nas manhãs, e as ruas ficam mais calmas. Todo o ritual da manhã foi realizado: acordamos cedo - acostumados com a vida da semana e com a vontade de aproveitar o sábado - levantamos das camas às sete horas e alguns minutos. Tomamos um café mais prolongado, falamos um pouco sobre coisas de rodas de mesa do café da manhã, e eu ainda criança, não muito mais que treze anos e não muito menos que catorze, sai mais rápido da mesa para me vestir com o traje de rua, shorte velho, qualquer camiseta, um boné e tênis, para poder correr melhor. A mãe, como se não quisesse nada se aproximou da casa da vizinha e ali elas passaram horas conversando, o pai estava com seus afazeres de pessoa curiosa, mexeu em equipamentos elétricos e ferragens. Brinquei na rua de soltar pipa e assim a manhã se esvaiu, mas logo nós tivemos a tarde inteira para aproveitarmos, e sabíamos que mesmo muito cansados ainda tínhamos o domingo com seus compromissos dominicais. Ainda antes da manhã de sábado ser finalizada pelo almoço soubemos que iríamos ao shopping e naquele dia nós fomos.
            A minha diversão era ir à loja de brinquedos do shopping. Com suas prateleiras que eu não alcançava o último brinquedo, com seus jogos fabulosos, com todo o potencial de mexer com a imaginação de qualquer criança. Para os adultos todo o design e segurança dos shoppings encantam, além do mais lá há guloseimas de adultos e de crianças. Mas a casa não era próxima ao shopping, tínhamos que andar quinze minutos num trajeto de chão batido com um mato meio alto para depois pegarmos dois ônibus que nos levaria a essa outra diversão coletiva, pois se for individual não deve ser diversão.
            O relógio ainda marcava o início da tarde, uma tarde de sábado ensolarada. Outras crianças continuaram brincando na rua. O pai ficou em casa mexendo na sua arte de ofício. A rua estática. O poste no mesmo lugar. Os pássaros voando. O gavião parado no ar aguardando algum roedor para pegar o seu almoço. Os pipas no ar. A vida fluindo entre os vizinhos. Sorrisos simples e tantos outros irônicos. Casas sendo limpas. Mãos torcendo os panos nos baldes. Televisões ligadas. Pessoas comendo churrasco depois de encher uma laje conjuntamente. Principalmente homens nos bares tomando cerveja. A vegetação crescendo desapercebida. Aviões, com pessoas que até hoje não sabem que eu existo, passaram no céu. Assim como eu até hoje não sei da existência de tantas pessoas e não sabia da existência de duas pessoas que marcaram minha vida.  
            Todos prontos, as crianças e adultos com suas roupas de sair, com a expectativa de diversão em subir o morro, pegar o ônibus, subir a escada rolante, chegar à loja de brinquedos... Então começamos pelo primeiro movimento, subir o morro para pegar o ônibus. Os três primeiros minutos foram tranqüilos, olhares sempre para o céu para observar os pipas, e vemos há meia distância uma roda de pessoas no meio do morro com seu mato de médio tamanho e quando nos aproximamos lá estava as pessoas que marcaram minha vida. No meio da roda de pessoas tinha um jovem assassinado com arma de fogo, em seu corpo o registro da violência e ao lado um par de tênis e uma senhora que muito chorava. Até hoje não conheço a história dele e daquela mulher. O que conheço são alguns instantes intensos. Onde a tristeza extrapolava o corpo dela enquanto o silêncio habitava a roda. Continuamos o trajeto para nosso destino e o universo mais uma vez se transformou.
Hoje essa violência está acontecendo enquanto tomamos o nosso café da manhã, em todos os dias das semanas, enquanto brincamos na rua ou quando vamos aos shoppings, e tantas vezes ela está relacionada com tudo isso. Ela está próxima de nós e muitas vezes somente sentimos o drama quando ela nos toca. Quando ela nos fere. Acredito que devamos pensar nela antes dela nos ferir mais, para que consigamos uma sociedade menos violenta.

13 a 19 de junho é celebrada a Semana de Ação Global contra a Violência Armada.

domingo, 12 de junho de 2011

A responsabilidade social das empresas de alimentos com a propaganda de seus produtos

Por Rachel Trovarelli

Segue interessante artigo publicado no site Envolverde (http://envolverde.com.br/saude/alimentacao/a-responsabilidade-social-das-empresas-de-alimentos-com-a-propaganda-de-seus-produtos/) que questiona a responsabilidade social das empresas de alimentos em relação as próprias propaganda de produtos.


A responsabilidade social das empresas de alimentos com a propaganda de seus produtos


por Paulo Itacarambi*



Eis uma discussão que a sociedade brasileira ainda precisa fazer com seriedade: qual é o papel da propaganda nos nossos hábitos e valores?



De acordo com reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo no dia 30 de maio, uma pesquisa encomendada pela ONG Instituto Alana mostra que quase 80% dos pais considera a propaganda de alimentos prejudicial a seus filhos. O levantamento foi realizado pelo Instituto Datafolha, que entrevistou 596 pessoas em todo o país.



Os resultados mostram também que, na opinião dos pais entrevistados, a propaganda de alimentos, principalmente de fast food e doces, dificulta os esforços para ensinar aos filhos uma alimentação saudável (76%). E que as crianças são levadas a amolar os pais para que comprem os produtos anunciados (78%).



Para a pesquisa, alimentos não saudáveis são aqueles ricos em sódio, gordura ou açúcar. O Instituto Alana concluiu, pelos resultados verificados, que os pais estão pedindo ajuda para enfrentar o que a ONG chamou de “bombardeio” de propaganda de alimentos pobres em nutrientes. Eis uma discussão que a sociedade brasileira ainda precisa fazer com seriedade: qual é o papel da propaganda nos nossos hábitos e valores?



O Brasil vive uma epidemia de obesidade, inclusive infantil. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase metade da população brasileira com mais de 20 anos está com excesso de peso. Entre as crianças, a situação não é melhor. Uma em cada três das que têm entre cinco e nove anos de idade apresenta sobrepeso, e 15% delas já são obesas.



O problema atinge qualquer faixa de renda, gênero e raça. E a principal causa apontada é a alimentação rica em calorias e pobre em nutrientes, cujo cardápio contém a maioria dos produtos anunciados em todos os meios de comunicação do país: bolachas, biscoitos, balas, refrigerantes, fast food, etc.



Desde 2006, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) discute a regulamentação da publicidade de alimentos não saudáveis. No ano passado, a Agência publicou uma resolução determinando alertas sobre possíveis riscos à saúde nesse tipo de propaganda. Uma liminar na Justiça em favor da Associação Brasileira de Alimentos (Abia) suspendeu a regra. A Abia considera que regulamentar publicidade de alimentos é coisa do passado. A indústria está trabalhando em alimentos mais saudáveis. E aponta 2020 como o ano em que será possível atingir-se um grau adequado de “saudabilidade” dos alimentos.



Mesmo assim, em agosto de 2009, as 24 maiores empresas de alimentos do país firmaram um compromisso público de limitar a publicidade dirigida às crianças. Segundo o Instituto Alana, até o fim do ano passado, 12 das 24 empresas envolvidas no acordo haviam detalhado o compromisso e, destas, apenas oito especificaram os critérios nutricionais que serviriam de base para determinar um alimento saudável.



Então, como ficam as crianças? E os cidadãos em geral?



É questão central da responsabilidade social das empresas refletir sobre o que está divulgando para a sociedade por meio da sua propaganda. A propaganda cria desejos que, às vezes, leva uma pessoa – principalmente uma criança – a consumir o que não precisa e, no limite, até em detrimento do que precisa.



No caso da propaganda de alimentos, enquanto estes não apresentarem o grau de “saudabilidade” necessário para uma alimentação equilibrada, estarão de fato promovendo uma vida não saudável, com sérias consequências para os consumidores e para a sociedade. A obesidade é o exemplo mais visível e alarmante desse processo.



A propaganda também cria valores na sociedade. Se a empresa divulga sem critério ou aviso determinado produto que sabidamente faz mal à saúde, que tipo de valor vai disseminar? E se, ao contrário, os anúncios fossem instrumento para promover a equidade de gênero ou de raça, por exemplo?



As empresas de alimentos já poderiam ter dado um passo enorme na gestão responsável se tivessem cumprido o compromisso que elas mesmas assumiram de limitar a publicidade de alimentos não saudáveis para crianças. Ao não cumprirem, prestaram um desserviço à sociedade e ao movimento de responsabilidade social, porque desvalorizaram um dos instrumentos mais importantes que o mercado tem – a autorregulamentação – e desqualificaram a participação da sociedade no processo.



A propaganda é fundamental para a nova sociedade que precisamos construir, desde que também se baseie nos critérios de sustentabilidade que vão direcionar os negócios: justiça social, equilíbrio ambiental e crescimento econômico.



* Paulo Itacarambi é vice-presidente executivo do Instituto Ethos.



** Publicado originalmente no site Instituto Ethos.



(Instituto Ethos)

domingo, 5 de junho de 2011

O Dia do Meio Ambiente: é pra rir ou pra chorar?

Por Rachel Trovarelli

O dia 5 de junho,hoje, é, desde 1972, o Dia Mundial do Meio Ambiente. Essa data foi estabelecida pela Assembléia Geral das Nações Unidas durante a abertura da Conferencia de Estocolmo sobre Ambiente Humano.

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (http://www.ipc-undp.org/dmma/evento.htm)  a celebração deste dia catalisa a atenção e ação política de povos e países para aumentar a conscientização e a preservação ambiental.

"Os principais objetivos das comemorações são:


1. Mostrar o lado humano das questões ambientais;
2. Capacitar as pessoas a se tornarem agentes ativos do desenvolvimento sustentável;
3. Promover a compreensão de que é fundamental que comunidades e indivíduos mudem atitudes em relação ao uso dos recursos e das questões ambientais;
4. Advogar parcerias para garantir que todas as nações e povos desfrutem um futuro mais seguro e mais próspero. " (http://www.ipc-undp.org/dmma/evento.htm)
 
Em 2011, o tema deste dia comemorativo é o serviço às florestas.
 
Diante desse contexto, começo meu desabafo.
 
O Meio Ambiente, na minha percepção, é para a maioria das pessoas as plantinhas e os animais. Meio Ambiente é cachoeira, rios, florestas, montanha, a vida selvagem... e apenas isso. Afinal é assim que essa temática aparece na grande mídia.
 
Muitas pessoas que eu conheço, e acredito que muitas que eu não conheço, expressam que meio ambiente é a natureza. Raramente alguém considera meio ambiente o lugar em que vivemos e quase ninguém enxerga nós, seres humanos, como parte do meio ambiente.
 
E acho que esse é um dos motivos de tanto descaso com o meio em que vivemos, o meio ambiente. É por isso que o desenvolvimento ( consideremos desenvolvimento como a maioria das pessoas consideram: o desenvolvimento econômico ) não enxerga e muito menos valoriza o ambiente. Agem como se cidade fosse oposto de meio ambiente, considerando, por exemplo, o rio que passa pela cidade apenas o melhor local para descartar o esgoto gerado pelas pessoas que vivem no município.
 
Meio ambiente para essas pessoas, é o sítio, a montanha, que vão aos finais de semana. Nem a praia é mais meio ambiente ou natureza, afinal está sempre lotada de pessoas, lixo, vendas, agitação..
 
Como podemos comemorar o dia do meio ambiente, a serviço das florestas, em um país que acaba de aprovar na Câmara dos Deputados alterações no Código Florestal Brasileiro que ameaçam a vida?
 
Como podemos comemorar o dia do meio ambiente, num país que acaba de aprovar a construção da mega usina hidroelétrica de Belo Monte, no norte do país, com impactos imensuráveis a vida animal (inclui-se a vida humana) e a vida vegetal?
 
Isso sem contar, o aumento no desmatamento na Amazônia, o desmatamento no Cerrado, a poluição nos rios, no solo, no ar...
 
Ao meu ver, não há muitas coisas a serem comemoradas no Dia do Meio Ambiente no Brasil. Há muita pressão ainda a ser feita aos governantes, vide este grupo que organizou nesse final de semana uma grande manifestação nacional contra a aprovação das alterações no Código Florestal Brasileiro pela Camara dos Deputados e o licenciamento ambiental a construção da usina Belo Monte pelo IBAMA. http://todoscontraonovocodigo.blogspot.com/2011/05/este-blog-e-para-organizarmos-uma.html?spref=fb e http://minutonoticias.com.br/ativistas-fazem-passeata-contra-usina-de-belo-monte-e-o-codigo-florestal .
 
Acredito que enquanto a massa de seres humanos não se considerar parte do meio ambiente e não reconhecer que sua existência depende deste meio que degradam, não há motivos para comemorações, apenas muito trabalho a fazer. 

sábado, 4 de junho de 2011

Lançamento: Agenda Ambiental

Agora o canal de comunicação O Marreco traz aqui no blog um espaço chamado Agenda Ambiental. Este consiste em uma agenda de eventos socioambientais divulgados no jornal.
Para incluir algum evento, basta enviar o dia, horário, local e descrição do evento para omarreco@yahoo.com que em alguns dias o evento irá constar na página virtual e, se houver tempo, na próxima edição impressa dO Marreco.
Para visualizar a Agenda Ambiental, basta clicar acima no link.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Quando o coração acorda.

Por Alberto Kirilauskas


Diante de tanta assustadora violência observada em estatísticas, com o olhar e em notícias, decidi escrever algumas palavras para expressar uma parte do que entendo do mundo, mais especificamente do ser humano.

Aos que deixaram esse mundo cedo demais.

O dia nasce e o sol ilumina nosso corpo, então partimos muito bem sem saber o motivo, mas partimos. Nossos pedaços seguem em rumos diferentes, uma parte está no trabalho, outra na estrada que percorremos quando éramos crianças. Um outro está vagando pelo espaço, buscando dentro da gente uma vida extraterrestre parecida ou não com o que já imaginamos. Há aquele pedaço que está com nossas mães, pais, irmãs e irmãos, lá, sentado na sala conversando ou assistindo televisão junto. Tem o pedaço que corre pelas ruas não asfaltadas descalço. Outro pedaço está comendo o bolo que a vó fez e ainda quente é engolido. Há um desesperado sentado na cadeira do escritório e outro aliviado sentado na beira do topo da montanha. Existe aquele pedaço vagando por mundos ainda não inventados...
Do pouco me faço todo
Do todo me faço vivo
Vivo me divido em milhões de parte
Em partes eu parto
Em partes eu fico.
Continuo desconfiado que o caminhar humano é assim, carregado de sentimentos, lembranças, perspectivas e de toda a metafísica possível. Dentre as milhões de possibilidades possíveis para existirmos, nós existimos numa única. Existimos com nossas escolhas e nossas não escolhas. E se somos assim, metade lembrança do passado e a outra metade a projeção de futuro, assim físicos e metafísicos, se somos concretos e abstratos, se somos o todo mesmo removendo o todo, nos cabe compartilhar a vida, ver o outro como sendo si próprio, e a partir do reconhecimento do outro em si próprio, poderemos buscar constantemente uma vida e um mundo não violento.
“O inacabado pensar segue pela linha do tempo.”

DA OBSERVAÇÃO
Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...

Mario Quintana...