quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Reflexões sobre a fotografia e a sociedade

Por Alberto Kirilauskas

O vocábulo fotografia significa escrever com luz. Porém é necessário compreender que uma fotografia é mais do que a escrita com luz. A palavra que se apresenta simples envolve diversos agentes sociais: o fotografo, o fotografado (o objeto) e a pessoa que visualiza o trabalho final. Cada um inserirá elementos para compor ou analisar a fotografia, assim, ela vêm carregada de elementos passíveis de interpretações distintas.
Fotografia: Sebastião Salgado
Sua importância deve-se tanto a ela em si, como uma tecnologia capaz de carregar em si características de uma sociedade num determinado período da história, assim como ela é base de outras mídias. Para MACHADO
“a fotografia é a base tecnológica, conceitual e ideológica de todas as mídias contemporâneas e, por essa razão, compreendê-la, defini-la, é um pouco também compreender e definir as estratégias semióticas, os modelos de construção e percepção, as estruturas de sustentação de toda a produção contemporânea de signos visuais e auditivos, sobretudo daquela que se faz através de mediação técnica”. (MACHADO, Arlindo apud FOTO O E I)

A imagem que pudesse ser registrada de uma forma mais precisa, através de aparelhos, foi uma busca constante por cientistas de distintas épocas, como o os estudos astronômicos árabes. No final do século XIII e início do XIX, já reconhecendo as propriedades dos sais de prata, buscava-se uma forma de manter as imagens formadas, uma vez que elas se deterioravam em contato com a luz, devido a contínua reação desses sais. Por todo o interesse dos cientistas houve uma busca simultânea em diversas partes do mundo, onde em 1839[1] concretizou-se no processo de daguerreotipia[2]. Esse interesse pela objetividade está diretamente relacionado com o desenvolvimento da ciência moderna, onde há uma predomínio da razão no mundo. A partir do desenvolvimento com base científica a fotografia desembocou no rio das artes.
“No campo das artes, as imagens científicas foram apropriadas pelas vanguardas artísticas européias, principalmente pelas especificidades de imagens que produziam, e ganharam novos significados fora da objetividade científica”. (TACCA, 2005 p.11)
Onde no início existiram críticas, como a do poeta Baudelaire, dizendo que era uma técnica que não permitia incluir no seu produto final a subjetividade humana TACCA (2005). É possível dizer que nos dias atuais há pontos de vista semelhantes ao do Baudelaire, uma vez que há críticas referentes ao uso de um equipamento para gerar arte, onde o poder maior é do equipamento.

As cameras compactas, não como as conhecemos hoje, datam do final do século XIX (KODAK), esse fato permitiu um grande avanço no que tange a mobilidade dos fotógrafos. Uma grande revolução aconteceu com a popularização das câmeras digitais que ocorreu no final do século XX e início do século XXI. Onde atualmente há diversos dispositivos que fotografam mesmo não tendo a fotografia como seu central foco.


A fotografia, com seu início datado do mesmo período do início da modernidade, possui relações – principalmente - com a nova relação com o tempo. Se a modernidade criou uma nova relação com o espaço e o tempo, como descrito por BAUMAN (2001 p.15): “a modernidade começa quando o espaço e o tempo são separados da prática da vida e entre si”. Destarte o tempo é um elemento relevante nas análises dos diversos mundos que existiram e aqueles que estão por vir. O tempo do passado era sólido, as coisas não se dissolviam rapidamente, incluíam-se as relações sociais e também as físicas. Existiam grandes fábricas que estavam impossibilitadas de se mover no espaço, pois isso demoraria muito tempo. Em contraponto atualmente pode-se observar um tempo veloz, é o mundo líquido, que flui rapidamente e não possui mais formas duradouras físicas, onde há pouca fixação de fábricas, uma vez que elas não mantém laços com o local, mas sim com as possibilidades de retorno existentes ali, e também a fluidez incide sobre o comportamento humano, por exemplo, as relações entre seres humanos estão mais fugazes, elas se rompem sempre que existe uma nova possibilidade mais interessante.
Fotografia: João Ripper
Somado ao aspecto objetivo do tempo, que são os deslocamentos, os fluxos de informação etc. há a subjetividade do tempo, pois o tempo também está relacionado diretamente com a vida e morte das pessoas. E sobre esta subjetividade a fotografia age de forma intensa, uma vez que são lembranças que podem ser guardadas, a priori, ao longo dos anos.
Disdéri (apud TACCA, 2005 p.10) relata
“o árduo trabalho que tinha ao fotografar mortos na década de cinqüenta do século XIX. Como a fotografia era ainda muito recente muitas pessoas não tinham retratos de seus familiares e para perpetuar uma lembrança, solicitavam o trabalho de um fotógrafo que esperava a musculatura relaxar depois de horas e, assim, colocava o cadáver em posição normal, em uma mesa escrevendo ou outra situação, e aquela imagem perpetuava uma memória construída e cultuada de um morto vivo presente depois em um álbum de família. A implantação de memórias através da imagem não é somente uma prática das imagens técnicas, mas sua aceitação como realidade transformou nosso imaginário”. (TACCA, 2005 p.10) Grifo meu.
Silva (2010 p.34) completa:
“Cada tecnologia foi utilizada dentro de uma perspectiva própria, e assim coube à fotografia determinar a práxis da imagem. Dos retratos posados na daguerreotípia ao “instante decisivo” no fotojornalismo, passando pelo uso nas ciências e nas artes, a tecnologia foi sendo crescentemente enraizada, instituindo não só um novo hábito de imagens, mas também rituais sociais que passaram a encontrar na fotografia um reforço para a sua significação.”
A situação relatada por Disdéri demonstra como uma técnica interviu na forma de agir das pessoas da época e consequentemente ela alterou a maneira de se pensar o tempo. Sobre isso Tacca (2005 p.12) discorre: “A verdade imagética surgida na descoberta da fotografia e depois do cinema colocou a humanidade diante de uma nova representação “por delegação”, pensada até mesmo com a própria realidade”. No início a imagem fotográfica era pensada como somente uma apresentação da realidade, como descrito por Tacca (2005 p.12) “uma verdade imagética realista, dotada de uma aura de pureza e neutralidade, que aparentemente não interpunha nada entre ela e o leitor, conduziu as primeiras impressões e conceitos”, todavia, hoje é claramente perceptível que dentro da fotografia, ou das técnicas que se originaram a partir dela, se inserem olhares, visões e objetivos, tirando a suposta neutralidade existente no inicio do desenvolvimento dessa técnica.
Kossoy (2006 p.158) corrobora dizendo que:
“(...) é ilusão pensar que há uma “transparência” absoluta na transposição de dimensões que ocorre entre o modelo e sua representação. Tal objetividade é um mito. Toda imagem é produzida segundo um processo de criação/construção que engloba componentes materiais (relativos à tecnologia empregada) e imateriais *relativos às intenções do fotógrafo, ao seu repertório cultural, bagagem artística, convicções políticas, preconceitos internalizados, postura ideológica, enfim)”.
Destarte pode-se dizer que a fotografia é um recorte de uma imagem (espaço) e um recorte do tempo, assim a composição da imagem será constituída dentro dessas restrições.[3] E essas restrições estão relacionadas ao olhar do fotógrafo, uma vez que ele fará o recorte que desejar de acordo com o seu senso estético, ideológico, ou, como é o caso de fotógrafos contratados para um fim específico, de acordo com a orientação da editora ou qualquer outro encarregado.
Fotografia: João Ripper

Se por um lado pode-se ver o recorte no tempo e no espaço como uma restrição, por outro essa pode ser uma característica singular da fotografia que orienta a observação para os elementos que dão profundidade. Sobre isso discorre Kossoy (2006 p. 158):
“A fotografia é única, singular, ela é em si o começo e o fim, um ciclo completo sem antes, nem depois; seu roteiro se dá na profundidade, remete permanentemente ao passado: ao fato externo e à sua própria gênese. A imagem fotográfica é a face visível de um sistema que devemos desmontar a fim de compreender a sua construção, seus códigos, suas ambiguidades; tal desmontagem passa pela sua produção e o eventual uso que dela se fez: político, jornalístico, comercial, policial, científico etc.”
Faz-se necessário ressaltar que a fotografia, mesmo com os apontamentos de suas limitações feito acima, ainda permanece sendo um registro, e como registro ela fornece elementos que podem orientar um pesquisador, ou um observador que objetiva ir mais próximo possível daquela realidade ali representada. Nesse sentido Kossoy (2006 p. 159) diz que “(...) a imagem fotográfica fornece pistas e informações precisas acerca da aparência do tema registrando; possibilidade ímpar, à época, enquanto processo de conhecimento e instrumento de preservação da memória”
Video: Sebastião Salgado fala sobre a fotografia e a sociedade.

Os elementos de profundidade da fotografia permite fazer alguns apontamentos sobre a realidade. Atualmente observa-se uma popularização da fotografia devido a tecnologia digital. Aqui se pode observar tanto em relação ao fotojornalismo quanto a fotografia de família. No primeiro caso, o fotojornalismo está relacionado ao jornalismo atual, que é muito mais informativo do que reflexivo.

Essa orientação jornalística necessita de elementos visuais para que não se despender tempo com análises profundas, é sobre essa lógica que as filmagens e fotografias ganham destaque. Um conjunto de imagens é apresentado como se fosse a realidade (aqui cabe a crítica feita em relação a essa ingenuidade de acreditar que a imagem é neutra), onde o aumento da cobertura por parte dos fotojornalistas corrobora para se pensar dessa forma.
Sobre a fotografia de família é possível discorrer sobre a aparência como objeto central, sufocando a lembrança. O que ganha o primeiro plano é a divulgação do local onde foi ou do novo visual de cada pessoa, diferentemente do passado, onde o mais relevante era a lembrança da viagem, da festa ou qualquer outro convívio social.

Em ambos os casos o tempo ainda é o elemento base. Se no fotojornalismo isso se apresenta mais claro, pois as notícias devem estar diretamente ligadas com o presente extremante próximo, tendendo à instantaneidade, na fotografia de família esse elemento está sobre a divulgação, pois é fato que a aparência ganhou o primeiro, mas ela não se sustenta, o que sustentará a lógica do mundo veloz é o conjunto das aparências amplamente divulgado – aparência em foco – e constantemente exposto. Se não há continuidade da exposição, demonstrando uma vida frenética, a aparência se torna rapidamente obsoleta. Assim, a fotografia da forma que é utilizada por muitos, contribui para se ratificar o mundo veloz.

Referências

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
FUJIFILM. História da fotografia. Disponível em Acesso em Out. 11
KODAK. História da fotografia. Disponível em Acesso em Out. 11
LEITE, M. L. M. As transformações da imagem fotográfica. Disponível em
TACCA, Fernando de. Imagem fotográfica: aparelho, representação e significação. Psicol. Soc.[online]. 2005, vol.17, n.3, pp. 9-17. ISSN 0102-7182.
SILVA, W. S. Foto 0 / Foto 1. Tese, 2010. Disponível em Acesso em Out. 11.
[1] Em 1841 foi patenteado na Inglaterra um processo denominado de Talbotipia em referência ao inglês FOX – TALBOT que em 1835 desenvolveu uma técnica de registro da imagem (KODAK, FUJIFILM)
[2] Processo de registro de imagem que tinha um longo tempo de exposição, era um equipamento relativamente pesado, e o produto gerado possuía pouca durabilidade em condições normais.
[3] Diferentemente do vídeo ao que concerne a linha do tempo, uma vez este tem - mesmo dentro de uma limitação temporal devido ao tempo máximo de gravação - maior autonomia para criar uma linha no tempo.

domingo, 27 de novembro de 2011

Um plano de 50 anos para salvar a floresta

Por Marina Peres Barbosa


A reserva indígena Sete de Setembro, localizada na fronteira entre Rondônia e Mato Grosso, ganhou destaque recentemente por denúncias de ações ilegais de madeireiros na área de proteção ambiental.
Uma operação da Polícia Federal, batizada de Arco de Fogo, conseguiu apreender madeiras nobres serradas para a venda na região do Distrito de Boa Vista e Pacarana.
E segundo reportagem do Diário da Amazônia, as madeiras foram retiradas de diversas reservas indígenas, inclusive a Sete de Setembro. Enquanto governo tenta descobrir até que ponto a conivência dos indígenas facilitou a extração da madeira, dentro de aldeias Suruí - que ajudaram nas denúncias à PF - na região, a preocupação é outra: como garantir a preservação da floresta e sustentabilidade da comunidade em meio a ataques de madeireiros, disputas por terras com a agricultura e ainda sob o peso de legislações vindas de cima para baixo, como o novo Código Floresta.
O ambientalista Almir Narayomoga Suruí, líder do povo Paiter Suruí, está sempre atendo aos movimentos ao redor do mundo para enfrentar os desafios em sua região. “Discutimos com pessoas de várias áreas a forma mais efetiva de conseguirmos ter acesso às informações dos sábios e das riquezas da floresta e com isso buscar novos modelos de gestão e formas de construir um futuro melhor”, explicou.
E isto foi feito de uma forma bastante inovadora para uma comunidade indígena, apropriando-se de receitas do “homem branco”, mas com um tempero caseiro. Os Pater Suruí criaram um plano de desenvolvimento etnoambiental de 50 anos, baseado em eixos temáticos e diretrizes que atendam demandas como segurança alimentar, habitação, proteção territorial, educação ambiental, geração de renda, saúde integral e recuperação de áreas degradadas.
Estas ferramentas foram desenhadas pelos indígenas para facilitar o diálogo com o poder público, mas tem como base no Parlamento Paiter Suruí, um sistema de governança local.
O plano começou a ser traçado em 2000. Inicialmente, a ideia era reflorestar as áreas desmatadas do território, mas a ação foi muito além. A comunidade ganhou visibilidade por suas ações de reflorestamento e conseguiu ampliar parcerias nacionais e internacionais que deram início a novos projetos, como o etnozoneamento, para aproveitar melhor todo o potencial dos cerca de 250 mil hectares do território indígena e o projeto de redução de emissões de carbono por desmatamento e degradação (mais conhecidos pela sigla Redd).
“Nossa ideia com o Projeto Florestal carbono Suruí é vender o serviço que a floresta oferece para o mundo, por meio de créditos de carbono e utilizar estes recursos para implementar outros programas”.
Os planos de Almir são agressivos. Para garantir o aumento de recursos, a comunidade discute o potencial do ecoturismo. “As pessoas que buscam qualidade de vida querem ter acesso à floresta e a tudo o que ela tem a ensinar e podemos proporcionar isso, de forma organizada, para não destruir os recursos naturais”, explica.
E até o meio de chegar com mais facilidade na região já está prestes a sair. O Aeroporto Capital do Café, em Cacoal, deve ser liberado até o final do ano, com voos regionais três vezes por semana para Ji-Paraná e Porto Velho.
A meta maior de Almir, no entanto, ainda está em estudo e vai depender de muita criatividade para a captação de recursos: a construção de uma universidade, a primeira instituição indígena de ensino superior. “Quero o projeto finalizado em no máximo 15 anos.”

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Por Lívia Modolo


Em meio a tanta bagunça, confusão, corrupção, devastação, miséria e desigualdade, chegamos a pensar em desistir de nossos ideais. Ouvimos frequentemente a frase "gostaria de ainda ter a força da juventude", porém, será que esta força ainda não está dentro de cada ser humano, ele possuindo 15, 25 ou 60 anos? 
Se nossos ideais são o que nos movem, se desistimos deles perdemos a força de nosso pensamento e o sentido de nossa batalha!
Jovem é aquele que perseverante, corre atrás daquilo que acredita! Que sejamos jovens suficientes para enfrentar os tantos nãos que ainda vamos ouvir!

A música de Dona Ivone Lara é uma mensagem para aqueles que mesmo considerados "jovens" pela sociedade possuem uma passividade preguiçosa e velha, "largando mão" dos ideais em frente a tudo que ocorre no mundo atual!

Força da ImaginaçãoDona Ivone Lara
Força da imaginação, vai láAlém dos pés e do chão, chega lá, O que a mão ainda não tocaCoração um dia alcançaForça da imaginação, vai lá
Quando um poeta compõe mais um sambaEle funda outra cidadeLamentando a sua dor ele faz felicidadeForça da imaginaçãoNa forma da melodiaNão escurece a razãoIlumina o dia-a-dia
Força da imaginação, vai láalém dos pés e do chão, chega lá, o que a mão ainda não tocaCoração um dia alcançaForça da ImaginaçãoVai láForça da ImaginaçãoVai lá
Quando uma escola traz de lá do morroO que no asfalto nem é sonhoAtravessa o coração um entusiasmo medonhoForça da imaginaçãoSe espalhando na avenidaNão pra animar a fraquezaMas pra dar mais vida à vida
Força da imaginação, além dos pés e do chãoChega lá, o que a mão ainda não tocaCoração um dia alcançaForça da ImaginaçãoVai láForça da ImaginaçãoVai lá

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Contracultura - retrospectiva


             Por Isabela Romo

          Ao longo da década de 1960, ocorreram vários movimentos que exigiam mudanças na sociedade de então, e que foram genericamente englobados sob o nome de “movimentos de contracultura”.  
           Nas décadas seguintes, esses movimentos perderam grande parte de sua força, e, apesar dos avanços que conseguiram (como a conquista dos direitos civis dos negros nos EUA e na África do Sul, as mulheres conquistando espaços maiores e mais ativos na sociedade, etc.), permanece atualmente a visão destes como utopias defendidas por estudantes idealistas.
         Atualmente, novos acontecimentos retomam questionamentos sobre os rumos tomados pela política e pela economia global, o que pode ser evidenciado pelo aumento da ocorrência de manifestações contra a crise econômica que atinge tanto América quanto Europa; contra iniciativas que terão impacto negativo sobre o meio ambiente e contra ditaduras que resistiram por décadas.
         Seria esse o ressurgimento de um movimento de contracultura, adaptado à sociedade contemporânea?

      Segue abaixo uma reportagem publicada na revista Cult (edição 152), que aborda resumidamente a história destes movimentos.

A dialética da libertação: contracultura e sociedade unidimensional

Marcuse teve como mira a perspectiva utópica de transformação da realidade existente

Robespierre de Oliveira
A década de 1960 foi marcada por grandes conflitos e mobilizações sociais, nas quais a questão da liberdade era fundamental. Além do combate contra a opressão econômica e política, colocou-se em debate a questão sexual, o racismo, a emancipação da mulher, os direitos humanos, a liberdade de expressão, entre outras questões. A perspectiva de uma revolução social colocava-se para além da transformação do sistema econômico e político. O confronto de gerações tomou dimensões jamais imaginadas. A juventude questionava o modo de vida, propondo uma nova estética, novas roupas, novo comportamento, novas atitudes. Do “flower power” dos hippies à “imaginação no poder” das ruas de Paris, passando pelos Black Panthers, a juventude (operários e estudantes) elaborou diferentes níveis de sua perspectiva de mudança social e de libertação. Nesse contexto, Herbert Marcuse tornou-se conhecido de um público para além do meio acadêmico, por ser um defensor do movimento de libertação, em todas as suas formas: o movimento feminista, o movimento ecológico, o movimento operário, o movimento estudantil, o movimento negro, a guerra de libertação das colônias, a guerrilha latino-americana, o combate ao stalinismo e a luta contra o imperialismo, entre outros. Não só a postura política de Marcuse foi admirada, como também sua posição teórica. De fato, sua filosofia encontrou eco nos anseios de muitos jovens. Entretanto, Marcuse afirmava que o movimento de libertação da juventude não se baseava em suas teorias, mas nas próprias necessidades vitais dela.
“A recusa do intelectual pode encontrar apoio noutro catalisador, a recusa instintiva entre os jovens em protesto. É a vida deles que está em jogo e, se não a deles, pelo menos a saúde mental e capacidade de funcionamento deles como seres humanos livres de mutilações. O protesto dos jovens continuará porque é uma necessidade biológica. Por natureza, a juventude está na primeira linha dos que vivem e lutam por Eros contra a Morte e contra uma civilização que se esforça por encurtar o atalho para a morte, embora controlando os meios capazes de alongar esse percurso. Mas, na sociedade administrativa, a necessidade biológica não redunda imediatamente em ação; a organização exige contraorganização. Hoje, a luta pela vida, a luta por Eros, é a luta política.” (Eros e Civilização).
Clamor por libertação
O movimento dos anos 1960 resulta do contexto histórico, político, social e cultural. Havia a sombra dos horrores da guerra, das duas primeiras guerras mundiais, da possibilidade de uma catástrofe nuclear anunciada pela Guerra Fria, da guerra da Coreia e do Vietnã. A União Soviética entrara num processo de crise que a levaria à Perestroika e a seu fim em 1991. Krushev delatou os crimes de Stalin, após sua morte, na década de 1950. Isso fez com que países do bloco soviético tentassem libertar-se, como a Hungria em 1956 e a Thecoslováquia em 1968. Por outro lado, Cuba teve de se submeter à União Soviética para salvar sua revolução, a qual deu novo fôlego à luta contra o imperialismo norte-americano e às lutas contra o colonialismo, principalmente na África. Essa também foi uma época de grande desenvolvimento tecnológico, que popularizou o automóvel e a televisão e anunciou a robótica e o computador. Do ponto de vista cultural, avançou a indústria cultural ao mesmo tempo em que os jovens buscavam experiências rebeldes e alternativas, como o existencialismo de Sartre e Camus, os beatniks, os junkies, os punks dos anos 1950 e 1960, os hippies, as peças de Samuel Beckett, a pop arte, o rock’n’roll, o rhythm’n’blues, o cinema novo (seja brasileiro, a nouvelle vague, o cinema italiano, Bergman e o cinema japonês), entre outras. A necessidade dos jovens estava em não querer ir para guerra, em não ter uma vida medíocre, em explorar os potenciais criativos, em explorar o corpo e o prazer. Isso implica combater a moral, os costumes, as ideologias vigentes, assim como dedicar-se a um trabalho exaustivo e alienante. Para as mulheres, tratava-se de combater o machismo, assumir seu corpo (principalmente com a invenção da pílula anticoncepcional) e ter posições sociais. Para os negros, tratava-se de ter direitos civis (principalmente nos Estados Unidos e na África do Sul). De modo geral, era uma época clamando por libertação.
Marcuse, desde o início de sua obra, teve como mira a perspectiva utópica de transformação da realidade existente. Por “utopia”, entenda-se algo possível, embora ainda não realizado (cf. Ernst Bloch), e não a conotação do senso comum de “sonho impossível”. Em seu texto Sobre a Filosofia Concreta (1928), afirmava que a filosofia como atividade humana deveria preocupar-se com os homens. Em Filosofia e Teoria Crítica (1937), afirmou que a teoria crítica se encontra com o materialismo na preocupação com a transformação da realidade social e que essa se dá visando à felicidade material dos homens. Em Razão e Revolução (1941), postula que a teoria de Marx superou o idealismo hegeliano por pretender a realização da felicidade.
A felicidade
A questão da felicidade surge como medida da crítica à realidade existente. Considerando-se a crítica da economia política como a crítica das relações sociais, entende-se que o problema do modo de vida é produto dos próprios homens. O problema da humanidade, segundo Marx, surgiu quando as relações sociais entre os homens transformaram-se em relações econômicas, as quais pressupõem a desigualdade. Desde Platão, são muitos os filósofos que tentaram vislumbrar a possibilidade de uma sociedade humana mais harmoniosa. No caso do capitalismo, desde seu início, houve contestações a seu estabelecimento. As diversas utopias eram um protesto contra o modo de vida, tal como a contracultura dos anos 1960. Marx viu no sistema capitalista, graças ao desenvolvimento das forças produtivas, a possibilidade de superar a dominação do homem pelo homem (incluindo a dominação das mulheres e da natureza). Entretanto, apesar das bases materiais estarem dadas, a dominação ideológica mantém o sistema funcionando com todas as suas contradições. O grande problema para Marx estaria no obscurecimento da consciência de classe dos trabalhadores. A questão é: como a maioria se submete à exploração de uma minoria, sem coerção física? Diferentemente de outros sistemas econômicos, o trabalho no capitalismo é livre. A pressuposição de liberdade organiza o sistema ideológico de dominação.
Walter Benjamin foi um dos primeiros a perceber como os meios de reprodução técnica das mercadorias (incluindo a obra de arte) afetaram a estrutura social. Até o século 19, os trabalhadores não eram verdadeiramente consumidores, havia um grande fosso entre eles e as classes mais abastadas. Mesmo a obra de arte tinha um caráter diverso, poder-se-ia dizer elitista. Com a reprodutibilidade técnica, as mercadorias baixaram seu custo e passaram a ser acessíveis, integrando os trabalhadores de fato à ordem social. Comparado com o século 19, o século 20 insere os indivíduos no frenesi da ordem capitalista de tal modo que parece haver um déficit. A obra de arte perde sua aura, os homens perdem a capacidade de narrar, o efeito de choque impede os homens de desfrutar desinteressadamente da paisagem, a racionalidade torna-se cada vez mais instrumental. Marcuse critica o processo de reificação, em que os homens são tomados como coisas, ao afirmar que o corpo pode ser objeto de trabalho penoso, mas não do prazer. Nietzsche já criticara a moral cristã por seu culto ao sofrimento e negação do prazer e da felicidade. Freud escreveu que o processo civilizatório busca esconder o caráter animal dos homens, como a repressão à sexualidade.
Assim, a moral, a ideologia, a reificação, o processo de consumo, a racionalidade instrumental estão na base do processo de dominação que os próprios homens livremente atendem. A percepção dos frankfurtianos, entre outros, é que o processo de dominação capitalista não é apenas econômico ou político, mas envolve o todo da vida. A luta contra o capitalismo torna-se uma necessidade biológica em virtude do encurtamento da própria existência dos indivíduos, seja por meio de guerras, de consumo de pesticidas, de drogas químicas, de trabalho penoso, de asfixia psíquica. Christoph Türcke, em A Sociedade Excitada (2010), revela a sociedade contemporânea como a do masoquismo social.
Em O Homem Unidimensional (1964), Marcuse pergunta se a ameaça da catástrofe atômica pode garantir a liberdade, se se deve continuar a viver à beira do abismo. A luta por Eros, o princípio de vida, exige uma vida pacificada, contrária à ordem estabelecida da ameaça constante. Os jovens nos anos 1960 tentaram exprimir sua rebeldia e revolta contra a ordem e o modo de vida desde oferecendo flores aos militares até combatendo nas ruas. A contracultura buscava estabelecer meios alternativos da existência, assim como as antigas utopias. Alguns buscavam experiências em antigas culturas, como o uso de drogas para escapar da realidade opressiva. O surrealismo tem muita identidade com essas tentativas. “Sejamos realistas, exijamos o impossível.”
A revolução sexual, preconizada por Wilhelm Reich nos anos 1920, foi possível graças à pílula. As mulheres queimaram seus sutiãs contra a dominação machista. Marcuse apoiou o movimento feminista, o movimento ecológico e diversos outros. Mas ele tinha claro que o processo de contenção estava cada vez mais presente. Não à toa, um de seus últimos livros, Contrarrevolução e Revolta (1972), adverte para o perigo iminente da contrarrevolução. Não se pode esquecer do desfecho da Primavera de Praga, quando os tanques soviéticos sufocaram o desejo de liberdade dos tchecoslovacos. Ditaduras militares foram implantadas na América Latina e em outros continentes. A aids deu motivo para uma contrarrevolução sexual. A queda do Muro de Berlim, em 1989, reforçou o tema do fim das ideologias. Hoje as mulheres devem retroceder à moral religiosa. O clamor de libertação foi silenciado. As utopias são negadas. Mas as contradições não resolvidas ainda permitem pensar suas possibilidades.



“A contracultura arrebentou  com o formalismo e com aquela ideia de que ‘tem que ser assim, assado’, como se aprende na escola. Tudo que a gente estudava, a gente pensava em cima: ‘Será que está certo ou errado?’. E antigamente não, estudava-se como sendo aquilo definitivo. A nossa geração questionou tudo. Nas minhas peças, por exemplo, o mais importante é a emoção, a explosão.  (…) Mas esse negócio de paz e amor eu acho uma bobagem, porque se sofreu demais na contracultura. Esse negócio de casamento grupal… havia muito ciúmes, sofreu-se muito. Muita gente morreu por causa das drogas, muita gente se suicidou. Mas, como querem manter a imagem do paz e amor, ninguém conta essas coisas.”
Leilah Assunção, dramaturga

http://revistacult.uol.com.br/home/2010/11/a-dialetica-da-libertacao-contracultura-e-sociedade-unidimensional/ (acesso em 23-11-2011)

domingo, 20 de novembro de 2011

Revolução Industrial, Ambiente e a Saúde do Trabalhador

Por Marina Peres Barbosa
O artigo trata desde contextos históricos que permeiam esses três temas que estão interligados, até das relações relevantes no que se refere a efeitos múltiplos obtidos na análise destes num contexto social.

Em 1780 máquina a vapor foi aperfeiçoada pelo engenheiro inglês James Watt. E nesta ocasião a primeira grande onda de desempregos ocorreu na Inglaterra. Todo aquele que tinha apenas a força física para vender, nada tinha de valor que valesse a pena comprar, sob o ponto de vista operacional.
Agora milhões de cavalos vapor (HP - horse power) estavam disponíveis substituindo os músculos humanos e dos animais. O trabalhador braçal deixou de ter utilidade na movimentação e na elaboração da produção … Os mais persistentes foram se alfabetizar e aprender aritmética, interpretar textos e instruções, para prosseguirem como trabalhadores na indústria a vapor … Surgem as primeiras escolas técnicas da era da industrialização.
O carvão, a água, caldeira e as engrenagens, polias, camos, manivelas, alavancas, eixos de transmissão e muitos outros dispositivos fabris eram agora a primeira ação da pré-automação dos processos de produção na fábrica-galpão. E surgem as primeiras manifestações da poluição decorrente da industrialização, caminhando para a escala de milhares de unidades por mês.
Os preços das mercadorias começaram a cair bruscamente pelo fato da racionalização das fábricas em relação aos profissionais do artesanato – da “indústria caseira”. O artesão começou a ter a competição dos preços, pelo efeito do “planilhamento” dos custos, e despesas, elaborado pelos contadores e os primeiros mestres de custos das fábricas.
Daí nasce o consumismo não só pelo fato da redução dos preços, que deu acesso ao mais pobre dos membros do império inglês, como, também, nascem as disciplinas da engenharia que aprimoravam a qualidade das mercadorias, sua durabilidade, seu estilo e se incorporavam nelas às características das classes sociais e da aristocracia inglesa.
O consumismo extrapola, a industrialização, também, e a poluição cresce nas emissões de CO2, da queima do carvão, na ordem de 280 ppm (partes por milhão) e temperatura média de 13,7° C (em 1800) , para 397 ppm e temperatura média de 14,6° C (em 2007)(1) hoje, na era das megaconferências mundiais sobre o meio ambiente e as legislações ambientais e demais procedimentos de controle de poluição e mitigação, pela sustentabilidade cujo conceito nasceu na ECO72, formulado pela senhora Gro Harlem Brundtland …
Em pleno século 19 construíram as fábricas-galpão pela convergência de várias máquinas secundárias que eram acionadas por monstruosas caldeiras, de modo a aperfeiçoar o uso da energia calorífica de uma única caldeira, por exemplo, para transmissão de força, em várias máquinas especializadas e simultâneas, dispostas nas suas proximidades.
As fábricas-galpão, por conseguinte, tiveram a necessidade de possuírem grandes chaminés para a expelirem a fumaça derivadas da queima do carvão. Na busca de matérias primas começaram a degradação do solo, nas minerações e no desmatamento para obtenção de madeira e lenha. Tanto para produção de carvão vegetal, quanto para extração de carvão mineral (nas minas).
E as primeiras grandes aglomerações humanas, em larga escala, também vieram, as quais condicionadas pela convergência energética da máquina a vapor e das suas máquinas secundárias utilizadoras de força. Muitas pessoas passaram a trabalhar aglomeradas em instalações feitas para produção das mercadorias da era moderna …
Então, a saúde pública começou a manifestar uma infinidade de disfunções, doenças e males. Epidemias e endemias, problemas de higiene e asseio, numa diversidade cultural espantosa nunca vista, num misto de egressos das áreas rurais inglesas e de egressos urbanos.
Surgem os albergues dormitórios, os cortiços, as favelas nas proximidades das fábricas-galpão e os primeiros condomínios residenciais de trabalhadores com salários que lhes permitiu aquisição de casas e alguns bens de utilidades domésticas, e rudimentares meios de transportes (pequenas organizações de transportadores de pessoas). Surgem vilas operárias, próximas às fábricas-galpão … E o saneamento básico?
Origina-se daqui uma fusão de comportamentos, vícios e “bactérias”. Mais a fusão de comportamentos, vícios e “bactérias” criados da falta de administração racional e científica das fábricas e seus aglomerados humanos e maquinais, e dos “amontoados residenciais” sem planejamentos e sem a assistência das autoridades do império inglês.
Nos primeiros 70 anos do século 20, após o espalhamento do modelo industrial inglês por todo o mundo, tudo sobre industrialização, poluição e condições de trabalho nas fábricas transcorreu numa degeneração progressiva da vida humana, nos impactos ambientais das atividades industriais, na saúde individual e coletiva das pessoas e das comunidades onde operavam as fábricas.
Até que na ECO72, em Estocolmo, Suécia, surge após várias reuniões e pré-conferencias, até pelo chamado Clube do Roma, nos anos 1960, o conceito de SUSTENTABILIDADE: “de não se comprometer à subsistência das futuras gerações, pelo esgotamento ambiental, decorrente das atividades industriais e humanas que não permitissem a “regeneração” da natureza, em seu tempo natural de recuperação, em qualidade e quantidade.”
Iniciam os movimentos de integração da Saúde Ambiental ou Saúde e Ambiente – campo do conhecimento que estabelece a relação entre o ambiente e o padrão de saúde de uma população.
A Organização Mundial da Saúde – incorpora todos os elementos e fatores que potencialmente afetam a saúde, desde a exposição até os aspectos negativos do desenvolvimento social e econômico dos países:
1. Substâncias químicas;
2. Elementos biológicos;
3. Interferências em estados psíquico do indivíduo.
Até, então, os serviços de saneamento básico – água, esgoto, lixo – eram os que tratavam da ligação ambiente x saúde, de modo parcial, quando se descobriu a importância da urbanização no entorno das fábricas, para assentamentos sociais de trabalhadores e suas famílias, comércio, escolas, igrejas, hospitais e locais de lazer e entretenimentos.
Nos anos 1970, no Brasil, houve o agravamento das condições ambientais pela industrialização: surgiram entidades para controle da poluição – CETESB, FEEMA …
Iniciam os primeiros combates organizados contra a poluição. E nesta ocasião começa o crescimento da área de controle da saúde do trabalhador, como trabalhador estava relacionado à poluição, como industriário, e sua saúde eram afetados, logo se fez a ligação destas questões com um sistema de saúde ambiental moderno.
Com a ECO92 vieram mais as contribuições e com mais ONGs foi se ampliando a visão das relações entre Saneamento, Poluição e Saúde Humana.
A idéia do ambiente para a importância da saúde é antiga … Mas, era considerado apenas como meio externo, onde se desenrolavam os acontecimentos ou os processos de determinada doença ou grupo delas.
As Ciências Sociais agregaram a dimensão social na Saúde Pública na concepção de ambiente vinculado ao coletivo – população, como já se percebia no início da Revolução Industrial. O ambiente ainda era uma externalidade ao sujeito …
Premia-se pela busca de um pensamento original sobre a saúde, frente à diversidade de padrões e métodos preventivos em função da situação socioeconômica dos países e de seus povos – para formas únicas de intervenções corretas e concretas.
Estudos concluíram por fatores adversos à saúde que podiam extrapolar a geografia que contém a empresa, quando gradativamente foi crescendo a importância dos cuidados com a saúde em setores da população não-trabalhadora, fora da produção industrial – pesquisa e ensino surgiram, produção/ambiente/saúde, ambiente e saúde, saúde e trabalho.
Por todo o histórico da industrialização nos primeiros 70 anos do século 20, as características da Saúde Pública e Coletiva deveriam ser: “preventiva, integral, comunitária, equitativa, e constituídas de coletivos socialmente distribuídos, politicamente atuantes e sadios.”
A dimensão ecológica então foi agregando os aspectos da geografia, do seu ambiente circunjacente, e suas características para os processos de proliferação de males e da adoção de métodos preventivos eficazes.
A Saúde Coletiva teve moldação da geografia x ambiente x fatores de riscos, doenças e agravos à saúde em populações expostos aos diversos agentes e vetores de males.
Nas situações ocupacionais do trabalho e àquelas não ocupacionais foram identificados processos diretos à saúde humana e processos indiretos a ela, respectivamente.
Constatou-se a importância da Toxicologia nos processos mórbidos de impactos e as respostas fisiológicas humanas como capacidade biológica de resistência, na industrialização. E era a Toxicologia uma ciência bem mais parametrizada e mais objetiva, e que possuía métodos para desenvolver o tratamento da saúde de modo mais científico, do que com a subjetividade das Ciências Sociais.
Existiam tabulações de levantamentos científicos de agentes tóxicos e elementos químicos agressivos, e seus limites de tolerância, para o organismo humano e para a natureza. Por sua determinação com alta precisão instrumental, a Toxicologia assumiu um papel mais diretivo na formulação de políticas e métodos para controle da saúde do trabalhador.
Então, a Toxicologia era mais precisa para se determinar padrões de ocorrências de agentes ou elementos tóxicos na água, no solo e no ar … Tanto nas suas formas naturais, como encontrados na natureza, como em suas formas concentradas e complexadas, em misturas combinadas, extraídas, processadas industrialmente e despejadas e espargidas na água, no solo e no ar, o que vem a caracterizar concentrações extranaturais da ação humana e de suas atividades sociais e econômicas – degradação, poluição e contaminações.
A Saúde do Trabalhador incorporou a nova saúde ambiental, da saúde coletiva, que abrangia a produção, o ambiente e a saúde – advindos da industrialização descuidada, desde o início da Revolução Industrial. E incorporou a partir dos anos 1970 a nova atitude e entendimento sobre a investigação em saúde e a intervenção sanitária sistemática nos sistemas de atenção à saúde e em seu setor público.
Havia boa estatística sobre os Indicadores mais importantes – mortalidade e letalidade nas condições de trabalho – mostrando dados sobre a aplicação de programas, de saúde do trabalhador, doenças profissionais e ocupacionais.
Na ocasião organizações começaram a fazer medições e estatísticas sobre doenças ocupacionais notificadas – insalubridade – o meio ambiente adverso ao organismo humano.
Critérios Normativos e Reguladores foram criados, a serem consultados para administração e controle da saúde do trabalhador, do Ministério do Trabalho e Emprego:
http://www.tapaseg.com.br/ltcat_-_laudo_tecnico_das_condicoes_ambientais_de_.html
1. Laudo Técnco das Condições Ambientais de Trabalho, conforme NR - 9 e NR - 15 da Portaria 3214/78.
Tal laudo consiste na qualificação e quantificação dos Agentes Ambientais (Químicos, Físicos e Biológicos) com objetivo de verificar a exposição dos trabalhadores a tais agentes, propondo medidas para eliminação, neutralização ou minimização dos mesmos.
O LTCAT servirá de instrumento para a elaboração do PPRA - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais e do PPP - Perfil Profissiográfico Previdenciário.
Para sua elaboração, são realizados os seguintes serviços:
- Avaliação Instrumental de Ruído ( Pontual ou Dosimetria);
- Avaliação Instrumental de Calor;
- Avaliação Instrumental de Vibração;
- Avaliação Quantitativa de Agentes Químicos por ventura determinados pela Avaliação Qualitativa;
- Comparação dos valores obtidos nas Medições com os Limites de Tolerância da Legislação;
- Emissão de Laudo Técnico e ART - CREA do Engº Responsável pela Avaliação.
2. Programa de prevenção de riscos ambientais,
O ppra/da tem como objetivo a preservação da saúde e a integridade física dos trabalhadores, através do desenvolvimento das etapas de antecipação, reconhecimento, avaliação e conseqüentemente o controle da ocorrência dos riscos ambientais existentes ou que venham a existir nos locais de trabalho, levando-se sempre em consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais.
3. O programa de controle médico e saúde ocupacional (pcmso);
O pcmso consiste numa série de diretrizes que devem ser seguidas pela empresa, como parte integrante no conjunto de medidas no campo da preservação da saúde dos trabalhadores.
O Programa tem caráter de prevenção, rastreamento e diagnóstico precoce dos agravos à saúde relacionados ao trabalho, além da constatação da existência de casos de doenças profissionais ou danos à saúde dos trabalhadores.
Além da elaboração do Programa propriamente dito, outras medidas também devem ser realizadas para garantir a integridade física e mental dos trabalhadores, como:
• Realização de exames médicos (admissional, demissional, periódico, de retorno ao trabalho e de mudança de função);
• Realização de exames complementares;
• Treinamento de primeiros socorros;
• Material necessário a prestação de primeiros socorros;
• Avaliação dos resultados obtidos com os exames médicos e planejamento para o próximo ano.
Vários outros fatores também justificam a implantação do Programa em pauta, tais como:
• Melhorar o ambiente de trabalho mediante a detecção e auxílio na redução, neutralização ou, até mesmo, eliminação do agente (físico, químico ou biológico) responsável pela doença ocupacional;
• Reduzir os acidentes trabalhistas, decorrentes de doenças ocupacionais, em locais de trabalho nocivos ao ser humano;
• Reduzir o absenteísmo ao tornar os trabalhadores mais saudáveis, garantindo, assim, elevados níveis de produtividade;
• Detectar doenças, ocupacional ou não, durante a fase de contratação de um empregado;
• Minimizar os riscos legais, tanto para a organização como para os seus gestores, originados pelas ações judiciais;
• Dar segurança ao capital da empresa ao reduzir passivos trabalhistas e cíveis ocasionados pelas doenças ocupacionais;
• Melhorar a imagem da empresa perante o mercado altamente competitivo e a comunidade, facilitando o acesso a mercados externos de elevada conscientização em segurança e saúde no trabalho.
4. Perfil profissiográfico previdenciário – ppp;
O ppp contém o histórico laboral do trabalhador, abrangendo, cronologicamente por período, informações administrativas, ambientais e biológicas.
As informações administrativas abrangem:
Setor, cargo, função, atividades desenvolvidas, os registros de cat e o conjunto das exigências morfo-bio-psíquicas necessárias ao bom desempenho das funções, a partir das quais considerar-se-á apto o trabalhador. Estas informações estão disponíveis normalmente no setor de recursos humanos da empresa.
Além de outras normas reguladoras aplicadas para a proteção a saúde do trabalhador, foram implementadas ainda legislações, normas reguladoras, políticas econômicas e sociais, demografia, e saúde – administração e gestão de recursos humanos, no trabalho, tais como:
1. Licenciamento ambiental;
2. Área de ocupação da empresa;
3. Produtos da empresa;
4. Serviços da empresa;
5. Captação e uso da água (outorga de uso);
6. Remoção da vegetação;
7. Extração e uso de recursos naturais;
8. Produtos e serviços adquiridos.
Na industrialização há variados tipos de exposições: agentes, cargas, riscos, condições facilitadoras è a relação final de ligações entre produção, ambiente e saúde.
A Saúde do Trabalhador passou a ser integrada à Saúde Ambiental è em função dos limites de suportação humana e ambiental, e seu graus de tolerâncias para agentes, cargas, riscos, condições facilitadoras, que começaram a levar os países ao estabelecimento de políticas públicas, legislação e serviços de saúde, criando meios para fiscalização e controle do uso sustentado dos recursos: naturais, humanos, produtivos, econômicos, materiais e suas interações, em todas as atividades possíveis da industrialização.
E as questões ambientais agravadoras, dos processos produtivos, passaram a ter pelo menos uma ação administrativa, para conferir a sustentabilidade, como conceituada na ECO72:
1. Alterações terrestres, geo-degradação;
2. Alterações dos ecossistemas aquáticos;
3. Agravos e degenerações florestais;
4. Incidências de câncer;
5. Afetação da camada de ozônio;
6. Mudanças de temperaturas;
7. Dispersão de contaminantes;
8. Novos vetores: virulência, infecção, patologias;
9. Derivados da combustão;
10. Compostos pesticidas, metais pesados; e etc.
Os Processos Produtivos da industrialização são as fontes mais críticas na ocorrência de calamidades e catástrofes – morbidade e mortalidade – endemias e epidemias.
O seu controle e mitigação, no Brasil, devem ter a coordenação integrada entre secretarias municipais, estaduais, ministérios, governos estaduais e municipais, IBAMA, INEA e outros, aplicando estratégias de mitigação, as quais listamos, algumas, a seguir.
Estratégias para Mitigação:
1. Sistemas de Vigilância Ambiental: informação, coordenação, ação e atenuação;
2. Desenvolvimento de Redes de monitoramento ambiental: emissões, despejos, acidentes;
3. Programas específicos de atendimento à saúde pública;
4. Centros de informação toxicológica;
5. Formação e capacitação de RH;
6. Fiscalização e gestão ambiental;
7. Planos emergenciais de combate e atenuação;
8. Programas de educação ambiental.
Estas estratégias são de implantação local, no auxílio subsidiário, por ação de quem está mais próximo e habilitado, além da adoção global de políticas concretas tanto governamentais, como internacionais dentro da globalização que privilegiem as questões decorrentes das relações produção / ambiente / saúde/ população / trabalhadores.
Devemos lembrar que a empresa está inserida no município e o trabalhador na empresa. Por esta vinculação de aproximação e coexistência as pessoas perdem a sua saúde tanto no trabalho, como em casa próxima da empresa … Podendo nem ser a empresa em que trabalham. Da mesma forma que começou a acontecer no início da Revolução Industrial na Inglaterra.
É no trabalho aonde perdemos a maior parte de nossa “reserva de saúde” … E, onde moramos e como moramos a parte restante.
Barra Mansa, RJ – 06/11/2011.
Eng° Lewton Burity Verri
Industrial Metalúrgico
CREA 74-1-01852-8 UFF – RJ
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Aluno UBM Pós Graduação
Fiscalização e Gestão Ambiental
(1) Jefferson Cárdia Simões – NUPAC / UFRGS – concentração de CO2 no manto de gelo da Antártica, na profundidade de 3.000 metros;