quinta-feira, 26 de maio de 2011

O tempo de viver


Por Alberto Kirilauskas
A face perversa da sociedade que estamos inseridos está transformando o mundo que vivemos muitas vezes impondo, sem uma força relevante, daqueles que estão sendo atingidos, em direção oposta. A transformação do mundo não se apresenta como um processo estritamente moderno, ele ocorre há séculos, todavia os processos de aceleração do tempo, através das técnicas que surgiram, principalmente, no último século, que altera nossas noções de espaço, têm possibilitado a transformação do nosso mundo muito mais rapidamente do que no passado. Isso não é novidade, e obviamente é necessário observar outros diversos aspectos para compreender esses processos de mudança. As relações entre as pessoas foram transformadas, as ações e a vida.  


Hoje vivemos num mundo onde, aparentemente, o tempo de viver não se apresenta como uma dimensão importante, ele tem sido deixado num segundo plano para que se consiga acumular coisas e mais coisas. Anseia-se pelo final de semana próximo, pelo fim do mês e ano próximo, pela aposentadoria próxima, e ainda sim há um discurso de que a vida é necessária ser vivida em sua plenitude, mas como é possível se cada vez mais se anseia indiretamente pelo seu fim? Ao mesmo tempo que há o discurso do viver uma vida plena, há também o discurso da acumulação de coisas, e para acumular coisas nós precisamos despender tempo para acumulá-las (isso nos casos que o tempo despendido é capaz de ser transformado em coisas), então sem tempo para o que é fundamental para o ser humano, busca-se escapes - os finais de semana frenéticos, as férias ou compras frenéticas ou qualquer outra fenda frenética - para tornar a vida suportável.
Para cada coisa que se acumula é preciso colocar no mercado as unidades de tempo que todo ser humano possui à venda, e assim muitos de nós verão a vida se esvair pelos dedos das mãos sem ter a força necessária para fechá-la ao menos um pouco e o coração estará cheio de coisas.    

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