quarta-feira, 23 de março de 2011

Bicicleta versus carro, ruralista versus ambientalista

Por Alberto Kirilauskas
O conhecimento técnico nos permite tecer opiniões sobre alguns assuntos específicos mais profundamente, e quando vemos ou lemos artigos demasiadamente rasos sendo publicados por alguns jornalistas é preciso pensar sobre o alcance e influência daquela informação. Organizamos eventos para trezentas pessoas e consideramos que tivemos um público bom, e um único artigo, dependendo da mídia, poderá alcançar milhões de pessoas. Assim, com esse grande alcance os artigos de diversas mídias de massa deveriam estar respaldados em bases profundas, onde seria visível a responsabilidade dos autores. Todavia não observamos isso acontecer em muitos casos. Essa pequena introdução é para contextualizar sobre o artigo escrito pela Silvia Marcuzzo, onde, uma jornalista sentindo essa superficialidade de seus colegas de profissão decidiu se expressar demonstrando que a crítica ao jornalismo infundado já não mais parte somente dos meios técnicos, mas sim do próprio meio jornalístico, apesar dela também estar envolvida com questões socioambientais. Boa leitura.
Artigo escrito pela Silvia Marcuzzo

A falta de contexto é uma questão perigosa. Tremendamente perigosa para todos, inclusive para nós, jornalistas, que no afã de terminar uma reportagem, ou porque temos pouco espaço, não conseguimos ouvir lados importantes de uma determinada questão. Essa situação é resultado da ausência de leitores, ouvintes, telespectadores mais exigentes?.
Esse negócio de Grenal, ruralista versus ambientalista, bicicleta versus carro, não está com nada! Pior. Tem estado com tudo na mídia, que alimenta o ódio entre as partes. Nós jornalistas, onde me incluo como parte dessa categoria tão desvalorizada ao longo do tempo, temos tido pouco cuidado ao explicar os distintos contextos em nossas matérias.

Não tenho visto, infelizmente, colegas escreverem ou explicarem questões importantes, que afetam a vida de milhares - até mesmo milhões - de pessoas direta ou indiretamente. Infelizmente, alguns colegas, bravos colegas que resistem nas redações, acreditam nas palavras colocadas por um determinado segmento que têm certos interesses e, portanto, deveria ter sua credibilidade questionada.

É óbvio que a imparcialidade não existe. Aí continuo a indagar: será que a nossa imprensa está assim porque a sociedade organizada não está sabendo chegar até ela? Com tantas novas faculdades de comunicação abrindo, quem está brigando pela qualidade da informação, de olho apenas no interesse coletivo?

Enfim, essa explosão de inquietações foi provocada depois de ler o artigo de uma articulista da Folha de S. Paulo que saiu no último dia 12, sábado. Eis aqui um trecho:

“Pois parece que tudo o que não precisamos no momento é trazer para nossos indomados centros urbanos os problemas que ainda não são nossos. Ou melhor, que por ora pertencem apenas a um grupo de garotos mimados e com mais disciplina para exercitar músculos do que para enxergar o próximo. Não me venha dizer que estar “engajado na defesa da bicicleta como meio de transporte” é uma reivindicação que faz sentido para a população de baixa renda.”

A autora, assim como qualquer um, tem o direito de escrever o que pensa. Mas o que me intriga é que se ela teve coragem de escrever isso deve ser porque tem muita gente pensando como ela. Para ela, é bobagem a reivindicação dos ciclistas por mais espaço na cidade.

Outro assunto perturbador é a forma como o licenciamento ambiental é tratado. Muitos jornalistas são insuflados, pressionados a pressionar órgãos ambientais para que as licenças sejam concedidas. Mas será que eles sabem o que é, de fato, uma licença? Ou quantas pessoas são pagas pelos governos para trabalhar no processo de licenciamento? A questão de fundo é se a sociedade sabe o que significa transformar os órgãos ambientais em cartórios, com finalidades puramente burocráticas.

Não, não quero que isso vire uma guerra entre o público e o privado. Apenas acho que nós, jornalistas, precisamos saber perguntar e nos colocar no lugar de um público que está começando a compreender as complexidades da tão falada, mal entendida e com seu santo nome em vão tão evocado: a tal sustentabilidade.

Aliás, para que mesmo servem as árvores? Por que elas são importantes na beira do rio? Os rios são todos iguais, com a mesma vazão? E o que são Áreas de Preservação Permanente? E por que foram criadas as Reservas Legais? Será que algum colega se perguntou sobre isso antes de escrever ou falar para uma audiência de milhões de pessoas? Afinal, nem tudo é relativo. Para a natureza, as coisas simplesmente são como são. E ponto final!

(A pedido da autora, o texto foi modificado no dia 16/3)

Fonte:http://mercadoetico.terra.com.br/arquivo/grenal-bicicleta-versus-carro-ruralista-versus-ambientalista/#

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