sábado, 17 de abril de 2010

FIB: Um indicador de bem-estar



Por Rachel Trovarelli

Butão.Em butanês “Terra do Fogo”. Um pequeno e fechado reino no Himalaia entre a China e a Índia. Governado por uma monarquia constitucional, pois em 2006, o último rei hereditário realizou um discurso histórico abdicando em favor de seu filho e anunciando eleições democráticas. Assim sendo, em 2008,os butaneses foram as urnas, terminando mais de um século de monarquia absoluta no país. Trata-se de um dos mais belos lugares do mundo, com rios cristalinos e exuberantes florestas, repletas de biodiversidade. Em 2005, o país recebeu das Nações Unidas o prêmio Campeão da Terra, afinal 70% das terras
possuem cobertura vegetal, sendo que 60% são florestas. Possuem uma rica cultura, simultâneamente, patriarcal e matriarcal e uma forte tradição espiritual baseada no budismo.
O conceito de FIB, nasceu em 1972, quando o rei Jigme Singya Wangchuck, disse em uma entrevista: “A Felicidade Interna Bruta é mais importante do que o Produto Interno Bruto”. Desde então, os butaneses afirmam que este conceito já estava embutido na cultural local há séculos. É a expressão de um sistema de valores que sempre foi intuitivamente preservado pelos sábios e compassivos reis que preservaram a integridade espiritual da nação, aliando desenvolvimento econômico com preservação cultural, ambiental e boa governança. Segundo Thakur S. Powdyel, diretor do Centro para Pesquisa Educacional e Desenvolvimento da Universidade Real do Butão: “o fato é que o FIB estava presente no Butão já há muito tempo, e todas as demais nações civilizadas estiveram tentando implementá-lo por séculos”,. “A única diferença é que essas nações não chamavam suas políticas públicas de FIB, como nós chamamos. Elas usavam outros nomes coletivos, tais como: educação de qualidade, boa assistência médica, meio-ambiente limpo, conservação da natureza e da vida selvagem, preservação da cultura e das tradições, uma robusta economia, liberdade de expressão, governança isenta de corrupção, direitos humanos e assim por diante”
Em 1999, foi criado após um decreto do Primeiro Ministro do Butão, o Centro para Estudos do Butão - presidido por Dasho Karma Ura - na qual conduz estudos para a interdisciplinalidade entre aspectos sociais, econômicos, culturais e principalmente para desenvolver o conceito de FIB. Segundo ele, Felicidade Interna Bruta é um indicador sistêmico do bem-estar social. A sociedade não deve ter como principal objetivo o desenvolvimento econômico, mas sim a integração do desenvolvimento material com o cultural, psicológico e espiritual, sempre em harmonia com o planeta. Para preencher todas essas necessidades, o FIB avalia nove dimensões, são elas: bem-estar psicológico, saúde, uso do tempo, vitalidade comunitária, educação, cultura, meio ambiente, governança e padrão de vida.
Após ter participado da 3° Conferência Internacional sobre o FIB na Tailândia, em 2007, a psicóloga e antropóloga Dra. Susan Andrews, foi convidada pelo movimento internacional a coordenar e disseminar o FIB no Brasil. Ela é fundadora e coordenadora da ecovila Parque Visão Futuro e do Instituto Visão Futuro (www.visaofuturo.org.br). Desde então, foram promovidos diversos eventos visando divulgação desse projeto. A resposta do publico participante
desses eventos foi muito entusiasmática e fez com que o movimento fosse rapidamente
disseminado pelo Brasil.

O país já conta com três projetos pilotos, em Angatuba, Campinas e Itapetininga, todas as cidades no estado de São Paulo. De modo geral e superficial, o método que foi utilizado é a chegada às comunidades através das escolas. As crianças tem tido um papel fundamental ao ser discutido felicidade. Com teatros e brincadeiras, são os
agentes da alegria. Os jovens de ensino médio têm atuado na realização dos questionários, de porta em porta, rua a rua. A mobilização das universidades traz o desenvolvimento do questionário e sistematização de dados pelos estudantes, enquanto os professores universitários oferecem orientação, disciplinas, mestrados e doutorados na área, como realizado com a parceria UNICAMP. Após a sistematização
e conclusão dos dados são apresentados às comunidades os resultados, formando um
Comitê FIB local, para acompanhamento das atividades, estabelecimento de prioridades,
desenvolvimento de estratégias, análise de recursos e prazos.
Em seguida, é hora de fazer parcerias. Governo, empresas privadas e universidade local são essenciais para a realização das obras e mudanças. E sempre deve haver uma continuação e reavaliação, fechando o processo.
Essa abordagem sistemática ocorre como uma precaução para que não haja banalização do
movimento, devido a tanto entusiasmo no Brasil. Por isso, o projeto é sempre realizado através do Questionário FIB que foi desenvolvido por especialistas na ciência hedônica (a ciência da felicidade). Outra característica essencial é a
abordagem local evitando-se assim, o risco de superficialidade e análise incorreta dos resultados. A mobilização da população deve ser alcançada através de um caráter criativo e integrado, evitando a apatia ou o desanimo ao longo das atividades.
O FIB é uma concreta ruptura com os valores do capitalismo. Trata-se de um primeiro passo em busca de uma sociedade mais equilibrada, resgatando valores como o respeito e o companheirismo na essência de cada ser. É algo recheado de complexidades porém totalmente aplicável e científico. Para se aprofundar no assunto, consulte: www.felicidadeinternabruta.org.br .

Um comentário:

  1. Estou aplicando um pesquisa sobre FIB na cidade de Rio do Sul, gostaria de ajudar para a formulação de meu questionário. Charles Jo.

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