domingo, 27 de novembro de 2011

Um plano de 50 anos para salvar a floresta

Por Marina Peres Barbosa


A reserva indígena Sete de Setembro, localizada na fronteira entre Rondônia e Mato Grosso, ganhou destaque recentemente por denúncias de ações ilegais de madeireiros na área de proteção ambiental.
Uma operação da Polícia Federal, batizada de Arco de Fogo, conseguiu apreender madeiras nobres serradas para a venda na região do Distrito de Boa Vista e Pacarana.
E segundo reportagem do Diário da Amazônia, as madeiras foram retiradas de diversas reservas indígenas, inclusive a Sete de Setembro. Enquanto governo tenta descobrir até que ponto a conivência dos indígenas facilitou a extração da madeira, dentro de aldeias Suruí - que ajudaram nas denúncias à PF - na região, a preocupação é outra: como garantir a preservação da floresta e sustentabilidade da comunidade em meio a ataques de madeireiros, disputas por terras com a agricultura e ainda sob o peso de legislações vindas de cima para baixo, como o novo Código Floresta.
O ambientalista Almir Narayomoga Suruí, líder do povo Paiter Suruí, está sempre atendo aos movimentos ao redor do mundo para enfrentar os desafios em sua região. “Discutimos com pessoas de várias áreas a forma mais efetiva de conseguirmos ter acesso às informações dos sábios e das riquezas da floresta e com isso buscar novos modelos de gestão e formas de construir um futuro melhor”, explicou.
E isto foi feito de uma forma bastante inovadora para uma comunidade indígena, apropriando-se de receitas do “homem branco”, mas com um tempero caseiro. Os Pater Suruí criaram um plano de desenvolvimento etnoambiental de 50 anos, baseado em eixos temáticos e diretrizes que atendam demandas como segurança alimentar, habitação, proteção territorial, educação ambiental, geração de renda, saúde integral e recuperação de áreas degradadas.
Estas ferramentas foram desenhadas pelos indígenas para facilitar o diálogo com o poder público, mas tem como base no Parlamento Paiter Suruí, um sistema de governança local.
O plano começou a ser traçado em 2000. Inicialmente, a ideia era reflorestar as áreas desmatadas do território, mas a ação foi muito além. A comunidade ganhou visibilidade por suas ações de reflorestamento e conseguiu ampliar parcerias nacionais e internacionais que deram início a novos projetos, como o etnozoneamento, para aproveitar melhor todo o potencial dos cerca de 250 mil hectares do território indígena e o projeto de redução de emissões de carbono por desmatamento e degradação (mais conhecidos pela sigla Redd).
“Nossa ideia com o Projeto Florestal carbono Suruí é vender o serviço que a floresta oferece para o mundo, por meio de créditos de carbono e utilizar estes recursos para implementar outros programas”.
Os planos de Almir são agressivos. Para garantir o aumento de recursos, a comunidade discute o potencial do ecoturismo. “As pessoas que buscam qualidade de vida querem ter acesso à floresta e a tudo o que ela tem a ensinar e podemos proporcionar isso, de forma organizada, para não destruir os recursos naturais”, explica.
E até o meio de chegar com mais facilidade na região já está prestes a sair. O Aeroporto Capital do Café, em Cacoal, deve ser liberado até o final do ano, com voos regionais três vezes por semana para Ji-Paraná e Porto Velho.
A meta maior de Almir, no entanto, ainda está em estudo e vai depender de muita criatividade para a captação de recursos: a construção de uma universidade, a primeira instituição indígena de ensino superior. “Quero o projeto finalizado em no máximo 15 anos.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário