terça-feira, 25 de outubro de 2011

Comunicação ambiental: estratégias de mobilização socioparticipativa para educação, informação e integração da rede socioambiental APA SUL RMBH

O objetivo deste artigo é introduzir e analisar os modelos de comunicação utilizados na estruturação da Rede Socioambiental no território da unidade de conservação da APA SUL RMBH, um ambiente que envolve questões polêmicas e interesses econômicos. Tais modelos almejam estabelecer diálogos e compartilhar informações acerca dessa região de modo intersetorial, participativo, igualitário e dinâmico, enfatizando o caráter mobilizatório dos processos comunicativos. A definição de objetivos comuns, a problematização participativa, a definição dos atores sociais e seus papéis, bem como o planejamento para a maior eficiência do processo, emergem como estratégias de mobilização que se estruturam “com”e não “para” a sociedade.

O projeto da rede socioambiental APA SUL RMBH

O projeto de pesquisa e extensão intitulado “Projeto Estruturante da Rede de Extensão Socioambiental em Regiões Mínero-Metalúrgicas: a APA SUL, seu mosaico de unidades de conservação e as comunidades do entorno” tem o objetivo de estruturar e implementar uma rede de extensão socioambiental em regiões mínero-metalúrgicas do Estado de Minas Gerais, visando ao planejamento territorial e ambiental da Área de Proteção Ambiental Sul da Região Metropolitana
de Belo Horizonte – APA SUL RMBH. O enfoque básico se fundamentou em dois elementos estruturantes: o das Unidades de Conservação – UC – instituídas, incluindo as de Proteção Integral e as de Uso Sustentável, e as comunidades residentes no entorno imediato dessas áreas protegidas.
O projeto pretendeu avançar na estratégia de estruturação da Rede Socioambiental a partir de espaços de conservação da biodiversidade, da cultura e da paisagem, tomando
como referência distintas escalas de tempo e de espaço para o planejamento, em que se destaca a Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço (RBSE) , compreendendo
a APA SUL RMBH, esta composta pelas Unidades de Conservação (UCs) e Áreas de Proteção Especial Estaduais (APEs). Compondo um mosaico, esse território mostra-se adequado como objeto de estudo e demonstra potencial de projeção para outros espaços que tenham conformação
semelhante, considerando a diversidade de características e a complexidade dessa unidade de planejamento.
A APA SUL RMBH engloba 13 municípios na parte Sul da RMBH e registra, atualmente, mais de duas dezenas de UCs, englobando as categorias Reserva Particular do Patrimônio Natural, Áreas de Proteção Especial, Parques Municipais e Estaduais, Estações Ecológicas, além
das Áreas de Preservação Permanente. Essa diversidade reforça a adequação da região como referência para o estudo das relações entre a gestão da UC e o desenvolvimento socioeconômico, tendo como componentes comunidades que habitam a APA SUL RMBH, cujas características, diversificadas quanto aos aspectos culturais, econômicos, políticos e tecnológicos, associadas às suas estruturas paisagísticas organizadas pela sua geomorfologia e pela sua biodiversidade, compõem um cenário único em relação às suas potencialidades e também pelas diversas fontes de conflitos de várias ordens. Tal dialética exige um modelo de comunicação que atenda às diversas vozes inseridas nesse contexto.
A partir dessa multiplicidade de atores, o projeto informacional da Rede Socioambiental APA SUL RMBH cria e apresenta elementos de mídia para a comunicação ambiental, site e Cartilha da Rede Socioambiental da APA SUL RMBH.
Os propósitos do projeto reúnem a ideia de conexão por meio do diálogo, do encurtamento de distâncias e de intercâmbios presenciais e virtuais com o fortalecimento e mobilização das esferas envolvidas: sociedade civil, universidades, empresas privadas, poder público em todas as esferas e, de modo especial, os governos locais, no processo de gestão ambiental compartilhada e participativa do território.

A comunicação como instrumento de informação e educação

Pichelli e Suzina (2005) denotam que a humanidade vive hoje o que se costuma chamar de “Sociedade do Conhecimento”, caracterizada tanto por uma quantidade historicamente inigualável de informações sendo produzidas e disponibilizadas quanto pela desigualdade no acesso a esses conteúdos. Tal barreira pode ser ocasionada por limites tecnológicos, educacionais e, também, pela falta de adequação de algumas mensagens aos seus públicos de interesse ou mesmo ao cidadão comum.
As tecnologias da comunicação e informação, segundo Silva (2006), coincidem com a luta por uma educação melhor, nem sempre de maneira que beneficie todas as classes e estratos sociais. A organização da tecnologia em favor de maior igualdade, inclusão e acesso não está absolutamente garantida, mas dependerá, em grande medida, da mobilização de segmentos governamentais e empresariais, de educadores e comunidades, exigindo que a tecnologia
seja usada de maneira que atenda aos interesses da educação para todos.
Nesse contexto, a educação objetiva, como indicado por Santos et al. (2008), a transformação do indivíduo no contexto social, pois amplia saberes, constrói a cidadania, estimula a continuidade e a replicação de seus propósitos, fundamenta costumes e culturas, preparando o indivíduo para ser um cidadão consciente, tendo em vista que as ações pedagógicas contribuem para a formação ética e política da sociedade. É preciso analisar que a educação (com ações pedagógicas) desempenha uma função social transformadora e emancipadora, que possibilita a interação entre as diversidades e adversidades, contribuindo decisivamente
com o crescimento mútuo dos seres e a valorização das diferenças.
A educação ambiental, inserida em toda essa conjuntura instrucional, necessita de ferramentas e técnicas mobilizadoras e comunicativas que possam apresentar e esclarecer os propósitos de todo o processo educativo. Os meios de comunicação, então, precisam estar preparados
para fazer inter-relações entre os mais diversos assuntos e o meio ambiente, mostrando à população como o tema está imbricado em tudo aquilo que afeta a sua vida.
Jacobi (2000) afirma que um dos fatores que explica a pouca aderência do discurso ambiental na sociedade é, sem dúvida, o isolamento das organizações ambientalistas dos outros movimentos sociais, uma vez que priorizavam em seu discurso a necessidade de garantir a qualidade ambiental, ignorando as demais demandas sociais.
Para uma real efetividade, o processo educativo, adjacente à utilização de metodologias e técnicas de comunicação e informação eficientes, necessita ser prolongado e replicado, favorecendo a consolidação e o fortalecimento de interações socioambientais, a possibilidade da afirmação de autonomia dos atores envolvidos e a perspectiva de prosseguimento e reedição dos fatores relacionados à educação e à comunicação ambiental.
Baseado na perspectiva de continuidade de um processo educativo, Faria (2000) expõe que o processo de aprender é um momento de descoberta. O aprendizado verdadeiro gera, em essência, a descoberta de “como aprender” e a vontade de continuar aprendendo e descobrindo coisas novas. Em outras palavras, quando se planeja a realização de um processo educativo, é preciso prever continuidade. É indispensável que o ato educacional gere um continuum, um movimento, uma vontade – e um caminho – para prosseguir.
Soares (2005) propõe, todavia, [...] que os profissionais de educação deem um passo a mais: que utilizem os equipamentos dos meios de comunicação do mesmo modo como são utilizados o giz, a lousa, o lápis e o caderno; que a esses se misturem microfones, gravadores, câmeras fotográficas e de vídeo, computadores, aparelhos de tevê, rádio, caixas de som e cabos, cenários, trilhas sonoras, entre outros; que façam deles instrumentos de trabalho, objetos de manipulação, meios de produção dos saberes essenciais para construir uma sociedade de pessoas autônomas, ativas e realmente comprometidas consigo mesmas, com os outros e com
todo o meio ambiente que as integra (SOARES, 2005,p. 3).
Nesse contexto, o projeto da Rede Socioambiental APA SUL RMBH busca viabilizar a elaboração e a aplicação de um conjunto de materiais e métodos que, de maneira gradual e sem descuidar da técnica, objetiva transpor e traduzir a essa coletividade uma gama de informações. A partir de tais informações, ao lado das práticas educacionais abrangentes,
almeja-se incentivar a mobilização e a formação de atores sociais, possuidores de uma consciência cidadã e crítica e de um maior conhecimento e entendimento da conjuntura
socioambiental em que a coletividade está inserida.

Fragmento extraído de :Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 22, p. 167-184, jul./dez. 2010. Editora UFPR. Disponível em: http://www.redeapasul.com.br/biblioteca_virtual/artigo6_apasul.pdf

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