domingo, 6 de junho de 2010

A continuidade do tempo

Por Alberto Kirilauskas

Nasci. Fui neném, depois cresci e me tornei criança. Fui adolescente e jovem, e agora cá estou eu, alguém de meia idade. Alguém que já leu coisas que descreviam acontecimentos da história. Datas indicando o início ou término de um processo, uma revolução, guerra, invenção da humanidade. Somado a esse gigantesco grupo de acontecimentos existem as informações, mesmo que relativamente imprecisas, sobre o nascimento do universo, das estrelas, da terra, da criação dos combustíveis, da flora e fauna, entre tantas outras coisas que já ocorreram. Depois de ter ocorrido todos esses eventos longos ou curtos, há o presente, esse presente que estamos inseridos e que já foi um futuro próximo ou distante para tudo o que ocorrera. Hoje vivemos num mundo que foi moldado pelas diversas forças que agiram sobre ele ao longo do tempo. O hoje é o futuro dessas pessoas que tiveram grandes sonhos, das que tiveram grande influência e das que tiveram pouca, é o futuro delas!
Alguém de meia idade como eu, tem uma meia vida para trás, onde posso dizer o que me ocorreu, o que fiz e o que deixei de fazer, o quanto me alegrei e sofri. E também uma meia vida para frente, onde existem sonhos que acharão no real seu lugar e outros não. Sendo que um dia essa meia vida se encerrará e existirão outras pessoas que também possuem vidas inteiras, que nascerão, serão nenéns, crianças, adolecentes, jovens e pessoas de meia idade como eu. Elas também terão uma meia vida para trás e meia vida para frente, onde elas saberão o que ocorreu, e terão grandes sonhos a serem conquistados, modificados ou ocultados pelas nuvens da rotina.
Nós, os de meia idade, já fomos nenéns e pretendemos nos tornar velhinhos saudáveis. Assim, desconfio que há uma linha do tempo. Uma linha que não sabemos onde começou e onde ela acabará. Uma linha...

“Há uma adesão à descontinuidade e à contingência bruta, pois, ao perdermos a diferenciação temporal, não só perdemos a profundidade do passado, mas também perdemos a profundidade do futuro como possibilidade inscrita na ação humana enquanto poder para determinar o indeterminado e para ultrapassar situações dadas compreendendo e transformando o sentido dela.” Marilena Chauí.

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