domingo, 6 de fevereiro de 2011

O indivíduo e a coletividade

Por Alberto Kirilauskas

Observa-se atualmente que há um enfoque no indivíduo para a resolução dos problemas. Os motivos dessa alteração sobre as responsabilidades dos problemas públicos se devem, ao menos em parte, às esquizofrenias do espaço e do tempo. Todavia, tanto a esquizofrenia do espaço quanto a do tempo não foi oriunda somente da elaboração das técnicas, mas sim do uso político que se fez delas. Pois toda a técnica possui o seu uso político.

O projeto político vigente trouxe a construção de uma grande "responsabilização" do indivíduo para solucionar os problemas públicos. Observa-se uma retirada dos problemas públicos da agenda pública, e nela inseriu-se os problemas privados de agentes públicos. Sobre isso discorre Zygmunt Bauman: “os problemas privados não se tornam questões públicas pelo fato de serem ventilados em público; mesmo sob o olhar público não deixam de ser privados, e o que parece resultar de sua transferência para a cena pública é a expulsão de todos os outros problemas “não privados” da agenda pública. O que cada vez mais é percebido como “questões públicas” são os problemas privados de figuras públicas.”

Esse distanciamento enfatiza a responsabilidade do indivíduo. Como temos uma grande opção de escolha (ilusória, pois não está em questão a opção de escolher ou não), cabe a nós tomarmos a decisão correta e se as questões não estão sendo solucionada é incompetência nossa. Como exemplificado por Bauman: “não se compra apenas comida, sapatos, automóveis ou itens de mobiliário. A busca ávida e sem fim por novos exemplos aperfeiçoados e por receitas de vida é também uma variedade do comprar, e uma variedade de máxima importância, seguramente, à luz das lições gêmeas de que nossa felicidade depende apenas de nossa competência pessoal mas que somos (como diz Michael Parenti) pessoalmente incompetentes, ou não tão competentes como deveríamos, e poderíamos, ser se nos esforçássemos mais.”

A perda de senso de coletividade faz com que os problemas vividos por outros sejam colocados como sendo responsabilidades exclusivas deles. Se eu sou responsável pelo meu bem estar o outro também deve ser, assim, se a situação de alguém estiver degradada foi porque ele não se esforçou o suficiente. Essa "responsabilização" do indivíduo favorece a perda de solidariedade e visão holística.

Próxima atualização dia 9 de fevereiro, quarta-feira.

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