quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Análises complexas para a resolução de questões complexas.

Por Alberto Kirilauskas

Parece-me fazer sentido e ser lógico o título desse escrito. Acredito se tal frase fosse pronunciada em qualquer espaço de debate muitos concordariam com ela, podendo ser a maioria ou unanimidade. Mas diante do meu viver na área ambiental - reconheço ser ainda um pequeno viver -, eu desconfio que existam muitas pessoas concordando com a idéia do título, e por outro lado preenchem os espaços de discussão com análises rasas sobre diversas questões. Dentre essas diversas questões, que envolvem segurança pública, saúde, está a questão sócio-ambiental. O ambiente, este emaranhado de relações sociais, culturais, políticas, físicas, químicas, biológicas, se apresenta claramente complexo, assim, se a frase estiver correta, será necessária uma análise complexa para buscar a resolução dos seus problemas.
A questão dos resíduos sólidos pode ser um exemplo para alimentar a reflexão. Alguns dizem que basta aplicar multas mais severas para coibir a degradação do meio e outros dizem que se deve permitir a degradação do meio porque eles, os que atualmente degradam, não possuem acesso ao modelo - estando ao longo dos anos às margens do mesmo. Pode se propor, para a resolução dos problemas dos resíduos sólidos, colocar mais lixeiras e catadores nas ruas, assim, além de se empregar mais pessoas nas indústrias que produzem as lixeiras e diretamente com a contratação de mão de obra, o meio seria mais bem cuidado, deixando a cidade limpa, dando as pessoas uma melhor qualidade de vida. Mas quem é que joga o lixo nas ruas? Quem gosta de ser catador de lixo? Quem valoriza os catadores? Quem produziu as embalagens descartáveis? Quem fez a propaganda do produto? Quanto de energia se gastou para produzir e depois recolher a embalagem? Ela realmente era necessária? Qual produto estava embalado? Quanto custa? As perguntas seguiriam até um ponto em que se consideraria adequado para se pensar nos resíduos, onde, se fosse aberto para outras pessoas se pronunciarem provavelmente viriam novas perguntas pertinentes ao tema. Então até onde devemos ir com os questionamentos para encontrar resoluções satisfatórias? Eu desconheço a existência de limites para encerrar as reflexões e a partir dali agir.
A ação demanda energia, e quando estamos executando-a tendemos a refletir menos e focarmos nossos esforços para finalizá-la. O pronunciar dessa frase pode favorecer a emersão da seguinte afirmação: A ação é desconectada da reflexão e vale o oposto. Entretanto, de acordo com minha análise, não se apresenta verdadeira essa afirmação. A ação, apesar da exigência de esforços, permite, dentro de suas limitações, que se realizem reflexões dentro do “processo de agir”. Sendo a ação em muitos casos um processo, ele permitirá dentro dos espaços existentes a afloração da reflexão, permitindo, desde que haja esforços para tal, que a ação seja reflexiva. E no que tange a reflexão como primeiro plano, entendo que deve existir a ação dentro do processo reflexivo. Aqui vale a mesma linha de raciocínio da ação, onde o processo reflexivo permite, dentro das suas limitações, a ação para trazer para o concreto o que está na abstração. Ressalta-se também a importância da reflexão pré e pós-ação, pois ela fornece elementos novos quando se está fora do ambiente em ação.
Vejo esse processo reflexivo dentro do desenvolvimento das ações e a ação dentro do processo reflexivo, como fundamental para embasar as análises na área ambiental. È a reflexão, referenciada nos conteúdos adquiridos em leituras, conversas ou de outra forma, que permite traçar as relações existentes entre os fatores sócio-ambientais, permitindo a realização de análises complexas. Tecer opiniões sem o aprofundamento das mesmas não nos levará ao que é profundo, mas sim nos deixará na superfície onde veremos nossa face envelhecer diante do reflexo na lâmina d’água cada vez mais turva.


"Super homem não supera a superfície."

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