quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A moda e a República Democrática do Congo


           Por Isabela Romo

             A moda tem ganhado cada vez mais espaço na vida moderna. Inicialmente, suas funções principais se resumiam ao seu objetivo primordial – o vestir – e à distinção social. Por muito tempo, foi considerada como futilidade, mas a partir do século XX, quando criações inovadoras dos designers de moda começaram a mudar paradigmas sociais, acompanhando o surgimento de movimentos como o feminismo, por exemplo, uma atenção crescente passou a ser dispensada a este tema.
            Ao longo do século XX, a moda passou a representar estilos de vida e convicções políticas, sendo tratada como uma forma de expressão e de arte, movimentando milhões de dólares por todo o mundo, consolidando grandes marcas e tornando-as desejadas mundialmente.
            A moda ganha mais e mais espaço sendo tema de filmes, programas televisivos, revistas, foco de estudos sociais, históricos e econômicos. Na República Democrática do Congo, um grupo denominado SAPE (Société des Ambianceurs et Persons Élégants, ou Sociedade das Pessoas Divertidas e Elegantes), exemplifica de forma singular como a moda pode influenciar de maneiras decisivas as vidas de muitos indivíduos.
            Os sapeurs, como são chamados os integrantes deste movimento, são homens congoleses comuns que gastam todas as suas economias e empenham todos os seus esforços para conseguir peças de grifes famosas, principalmente européias, e vesti-las para eles é, acima de tudo, um modo de vida – muitos afirmam que quando usam estas roupas sentem-se pessoas melhores, especiais.
            O Congo passou por três guerras civis, nos anos de 1993, 1997 e 1998, período no qual o movimento foi enfraquecido. Após 2002, o movimento voltou a ganhar força, sendo utilizado pelo governo como forma de difundir uma visão de que o país passa por um período de estabilidade, associando o movimento à paz.
            Os sapeurs despertam opiniões divididas entre a população do país – alguns se alegram com sua vista extravagante e divertida, outros se espantam com o fato de os sapeurs despenderem tanto esforço para comprar roupas em vez de tentarem melhorar sua situação social. Alguns fotógrafos e jornalistas congoleses acreditam que os sapeurs ajudam o país a superar os traumas das três guerras civis.
            Em um país onde a maior parte da população está abaixo da linha da pobreza, mesmo com a crescente exportação de commodities como cobre, cobalto e diamantes, a existência de um movimento dedicado de tal forma à moda nos lembra de como a sociedade moderna deixou de lado a visão do ser humano como indivíduo que possui a possibilidade de crescer e adquirir conhecimento, relegando-o a posição de consumidor, ou de cartaz ambulante das grifes que desfila.


Para saber mais sobre os sapeurs:
 The Sapeurs of Congo: Open Gutters and Gucci Loafers, por Sean Murphy
http://www.africafeed.com/post/73905767/the-sapeurs-of-congo-open-gutters-and-gucci-loafers

The Beau Brummels of Brazzaville, por Tom Downey, em:
http://online.wsj.com/article/SB10001424053111903927204576574553723025760.html

Um comentário:

  1. Boa noite.

    O pensar em como se vestir, em cores diferentes, cortes de roupas distintos, objetivando se expressar com suas vestimentas, parece ser uma forma deveras interessante, pois poderíamos compreender isso como uma arte em vestimentas. Todavia, como apontado no texto, a moda ali utilizada vem da europa ou de outro ponto superior na hierárquica sociedade mundial. Se não fosse da europa, poderia ser mesmo dentro do Congo, poderia ser a marca do apresentador de televisão (vide os casos brasileiros). Assim, a moda em estruturas hierárquicas corroboram com as mesmas, homogenizando diversidades, à moda das pessoas do topo.

    Pensar moda, hierarquia, sociedades, cultura e natureza, faz parte das análises críticas da sociedade que tanto se tem demonstradas necessárias atualmente.

    Legal a abordagem de um tema que foge aos olhares primeiros.

    Até mais

    Obs. Sugiro, caso não conheçam, a poesia Eu etiqueta do Carlos Drummond de Andrade.

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